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(imagem daqui)
Mais por temperamento que por outra coisa, não sou um adepto de manifestações. Mas cheguei a uma altura em que, perante as medidas recentemente anunciadas por Passos Coelho e Vítor Gaspar, tenho que aproveitar as oportunidades possíveis de fazer sentir ao governo o descontentamento com medidas que são extremamente injustas. E há alturas em que a palavra escrita não chega.
Ainda que não concorde com o mote principal da manifestação marcada para o próximo Sábado - "Que se lixe a troika"-, considero que dado que este não terá efeito, já que a inevitabilidade de cumprirmos o Memorando de Entendimento é isso mesmo, uma inevitabilidade, e que dados os acontecimentos recentes, a manifestação será integrada por pessoas de todo o espectro ideológico-partidário que querem demonstrar o seu desacordo com o governo, é um imperativo moral marcar presença.
Como muitos estarão recordados, defendi o pedido de ajuda externa. Não sou contra a troika e não sou contra a austeridade per se. Sou, isso sim, contra certas medidas que obstinadamente o governo quer impor, medidas que são penalizadoras para todos os portugueses, em especial para os que mais dificuldades passam. Sou contra a austeridade que significa apenas aumentos de impostos, deixando em grande medida o memorando de entendimento por cumprir no que diz respeito à redução da despesa. Sou contra a austeridade quando esta viola um princípio básico do liberalismo e da dignidade humana, a propriedade dos indivíduos sobre os frutos do seu próprio trabalho, que este governo insiste em expropriar e dispor a seu bel-prazer.
Os acontecimentos recentes colocam o governo à beira de uma quebra de legitimidade, revelando ainda uma perda de noção relativamente ao conceito de justiça. É por isso que é chegada a altura de engrossar fileiras integradas até por aqueles de quem discordo ideologicamente. Há um solo comum onde os homens revoltados ainda se podem encontrar e dialogar, procurando o sentido de justiça na polis, solo este que extravasa os redis ideológicos.
Por tudo isto, eu, monárquico, liberal com laivos de conservadorismo, militante da JP/CDS, marcarei presença na manifestação do próximo Sábado. Porque como assinalou Camus, a revolta surge do espectáculo do irracional a par com uma condição injusta e incompreensível. Um rebelde é um homem que diz não. E já chega do processo de Gasparização em curso.
Eu, monárquico, liberal e conservador fui, em Março do ano passado a uma manifestação de “indignados”: encontrei um festival de canções e fui em passeata festiva de pessoas afáveis e cordatas que, chegadas ao Rossio e encontrando a rua do Ouro barrada por quatro ou cinco polícias, se contiveram e ficaram por ali apertadas, logo depois calmamente dispersando e regressando a casa. Não prosseguiram, portanto, sequer até ao Terreiro do Paço, centro tradicional da burocracia político-administrativa que tem minado e destruído a nossa Pátria. No dia seguinte, tudo continuava na mesma. Como essencialmente tem estado, desde 25 de Novembro de 1975 e, especialmente, desde a fatídica data de 1 de Janeiro de 1986.
No próximo fim de semana será o mesmo, com mais ou menos berros.
Meu caro Samuel, faça o que em consciência muito bem entender, mas fique muito ciente de que esse género de “formas de luta” é coisa dum passado que já passou. Tais coisas não embaraçam minimamente os gestores de um Sistema que os ultrapassa, – um sistema que ultrapassa a mera “política” e “economia” -, e servem de facto apenas (tirando o desabafo momentâneo dos manifestantes) para os serviços de segurança e informações colherem mais dados para arquivo, testagem, monitorização e controlo (para o efeito podem ensaiar-se até algumas pequenas escaramuças).
É curioso que venha falar em Camus. Tal Sistema, que se está armando em torno de nós – e DENTRO de nós -, tem realmente mais a ver com metafísica existencial do que com os problemas que normalmente preocupam os normais cidadãos das normais manifestações políticas. Mas essas circunstâncias normais passaram e já foram ultrapassadas.
Mas, seguramente, pode o Samuel contar comigo para, com mais algumas poucas centenas de patriotas, nos manisfestarmos na rua pela abolição dum certo artigo dum papel a que chamam “Constituição” e por um referendo a favor da Monarquia!