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O descalabro espanhol prossegue indemne a qualquer lógica ou assomo de racionalidade. Rajoy, à semelhança do seu antecessor, não passa de um arlequim sem o menor talento e engenho para o exercício de um cargo cujo grau de exigência é altíssimo - longe vão os tempos de políticos da craveira de Suarez, Fraga e Mellado. É de bradar aos céus a incompetência larvar que tem vindo a propagar-se no seio do executivo espanhol. A inépcia com que foi gerido o pedido de resgate à banca espanhola, o esforço inútil dispendido na apresentação de medidas económicas mal direccionadas, ou a desorientação patenteada na gestão de uma austeridade que, por razões óbvias, exige algum talante e "savoir faire", são exemplos bem evidentes da inabilidade com que Rajoy tem lidado com a crise. Os últimos desenvolvimentos, designadamente a ameaça independentista catalã, são mais uma achega na descredibilização de um Estado que, com o aprofundamento da crise económica, vai atingindo o seu estertor político. O modelo político e social saído da Transição e dos Pactos da Moncloa vê-se perante uma encruzilhada cuja resolução afigura-se sumamente difícil. A controvérsia política actualmente em curso não se limita apenas ao desajustamento do "bienestarismo" face às novas realidades económicas e sociais resultantes da globalização, mas abrange concomitantemente outras dimensões igualmente importantes, com particular destaque para o modelo de Estado. No fundo, a crise espanhola, usando uma expressão cara a Paulo Rangel, irá desembocar inelutavelmente numa "convulsão constitucional". Resta saber, contudo, como irão reagir os sectores espanholistas às atoardas soberanistas provenientes da Catalunha. Uma coisa é certa, a crise irá certamente perturbar o presente xadrez político espanhol.