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Esticando o pernil

por Nuno Castelo-Branco, em 20.10.12

 

Habituou-nos a entrecortar as suas declarações por vinte e quatro horas de silêncio mediático. Anda também obcecado com a já enterrada questão do 5 de Outubro, coisa felizmente morta há uns oitenta ou noventa anos. Não vale a pena insistir num assunto que no velho e sábio dizer popular, "há muito esticou o pernil".

 

Surge então a ameaça velada do fim da democracia, como se esta apenas pudesse viver e medrar sob a batuta de um maestro que por mero acaso, deverá sempre pertencer à agremiação de confiança. Sem isto, há um implícito reconhecer de indignadas razões para o desabar de qualquer saraivada de oteleirices que bem conhecemos e que o país ainda hoje pesadamente paga no âmbito político e económico. Embora Mário Soares apenas o sugira de forma indiscreta - "sont tout le monde de la societè portugaise (...) qui est contre le régime" (sic) - , a chantagem militar é latente e estrepitosamente explode naquelas alturas em que o rancho, entendido este no sentido mais lato, é colocado em questão pelos medos de alguns ou pela ânsia dos "direitos adquiridos" de outros mais.  

 

Surgem agora como os "guardiães do Estado", as sentinelas da "democracia" - qual delas? - e da "soberania nacional". Se é vera a intenção, todos teremos o pleno direito de colocar algumas questões, talvez endereçando-as aos Estados Maiores dos três ramos das Forças Armadas, ou tão simplesmente, à organização dos diligentes e plutónicos sargentos que como agora se tenta fazer crer, farão a "nova revolução". Se na época dos nossos bisavós, os generais surgiam como o bicho-papão que dava a comer peixe-espada às veleidades do sistema liberal, a coisa foi irreversivelmente decaindo, delegando-se em hábeis capitães ultrajados pelas investidas igualitárias dos milicianos, os afanosos trabalhos revolucionários. Como o plano é fatalmente tão inclinado como as encostas do Evereste, parece que hoje em dia desponta a hora dos plutónicos sargentos. Imagina-se que  "Nova República" ou "Novo Estado" dali sairá. Vai ser bonito, olá, se vai. Calcula-se!

 

Aqui deixamos uma sucinta lista, a necessária meia dúzia de questões a colocar aos raladíssimos militares, ou melhor, à ruidosa "classe" de plutónicos sargentos e tímidos superiores hierárquicos:

 

1. Por onde andavam quando se tratou da delegação da soberania nacional que durante séculos a fio se exerceu sobre os territórios ultramarinos? Por um momento que fosse, escutámos militares minimamente preocupados com a inegável desonra de que se revestiu a apressada retirada daquelas paragens? O que tiveramos militares a dizer acerca do alijar daquilo que os seus  precursores conseguiram ao longo de séculos e já agora, do escandaloso abandono das populações que nas F.A. portuguesas confiavam?

 

2. Onde estavam as Forças Armadas quando os governos decidiram a adesão à então CEE, sem que alguma vez a população - o tal "povo" de que se sentem estrénuos defensores - fosse elucidada para uma posterior e irrecusável consulta de legitimização? Tais banalidades apenas bacocamente servem a povos atrasados como o da Noruega? 

 

3. Alguma vez se escutou o mais leve queixume pela eliminação do SMO, esse já antigo e eficaz recurso que em dias de ameaça externa, poderia levantar um povo em armas? Quantos portugueses com menos de trinta e cinco anos saberão manejar uma G-3? Ficaremos então sujeitos à boa vontade de aliados de ocasião? 

 

4. Onde estavam os zelosos militares, quando o sr. Cavaco Silva afiançou que o país não tinha de se pronunciar pelos acordos de Maastricht, dada a falta de preparação popular para a tomada de decisões? Não se sentiram minimamente perplexos por este ostentoso desprezo para com os soberanos direitos do vulgo?

 

5. Os atentos militares tiveram algo a dizer aquando dos acordos de Schengen? Decerto não devem ter reparado que essa abertura de fronteiras implicou a factual abolição das mesmas, assim como a completa subalternização da autoridade do Estado sobre o seu território internacionalmente reconhecido.

 

6. Desde quando é que os responsáveis militares ergueram as suas vozes contra o malbaratar dos recursos da nossa agora inexistente marinha mercante, colocando o país numa extrema e escandalosa dependência externa?  Não nos referimos apenas a questões de comércio, mas à própria segurança nacional. Lembrar-se-ão os Estados Maiores daquilo que em termos materiais implicou a retirada da soberania nacional para o Rio de Janeiro? 

 

7. Alguém terá dado conta dos protestos castrenses pela súbita e pessimamente preparada adesão ao Euro, decisão que logicamente teve claras implicações na perda da soberania e delegação de poderes nas mãos de directórios em tudo estranhos aos seculares interesses de Portugal? 

 

Agradecemos o pleno esclarecimento.

publicado às 18:05


8 comentários

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De Anónimo a 20.10.2012 às 22:47


Já se faziam as contas  com o palhaço do suores!
Anos e anos de mafiosidade coberta pelos seus cães jornalados (uma das que nunca se diz é que foi o governo dele que negociou a adesão à cee e, no acto, aí sim, enterraram-se as pescas e a agricultura - além de ter enchido o país de cartazes a dizer "conseguimos! Portugal na cee")
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De seu salazarista a 20.10.2012 às 22:58


Soares é o nosso Rei...

Viva el rey Soares e seus delfins

Abaixo a ordem de Orange

Nous sommes français...desde Afonso filho e pae
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De Salazar a 20.10.2012 às 22:59


Salazarista é a tua tia...
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De Soares tem 2 milhões de fãs no facebook a 20.10.2012 às 23:00


é tudo invejaImage
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De Foi SIC? ma eu vi na estação a privatizá a 20.10.2012 às 23:01

serviço púbico bom paca...Image
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De Pleno Esclarecimento a 20.10.2012 às 23:08


Es claro...cimento

somos um país bem cimentado.Image
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De MIGEL a 21.10.2012 às 16:41

MARIÔ A ANCOR DI DUMAL DÉ PORTUGÊ AN FRANCE ?
IL A ANCOR PIAITINÉ LE DRAPÔ ?
NORMAL, IL AFÉ SA TOULÉTAN.





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De Mikito a 26.10.2012 às 01:11

Quantas verdades aqui foram descritas, PARABÉNS ao seu autor!

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