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Habituou-nos a entrecortar as suas declarações por vinte e quatro horas de silêncio mediático. Anda também obcecado com a já enterrada questão do 5 de Outubro, coisa felizmente morta há uns oitenta ou noventa anos. Não vale a pena insistir num assunto que no velho e sábio dizer popular, "há muito esticou o pernil".
Surge então a ameaça velada do fim da democracia, como se esta apenas pudesse viver e medrar sob a batuta de um maestro que por mero acaso, deverá sempre pertencer à agremiação de confiança. Sem isto, há um implícito reconhecer de indignadas razões para o desabar de qualquer saraivada de oteleirices que bem conhecemos e que o país ainda hoje pesadamente paga no âmbito político e económico. Embora Mário Soares apenas o sugira de forma indiscreta - "sont tout le monde de la societè portugaise (...) qui est contre le régime" (sic) - , a chantagem militar é latente e estrepitosamente explode naquelas alturas em que o rancho, entendido este no sentido mais lato, é colocado em questão pelos medos de alguns ou pela ânsia dos "direitos adquiridos" de outros mais.
Surgem agora como os "guardiães do Estado", as sentinelas da "democracia" - qual delas? - e da "soberania nacional". Se é vera a intenção, todos teremos o pleno direito de colocar algumas questões, talvez endereçando-as aos Estados Maiores dos três ramos das Forças Armadas, ou tão simplesmente, à organização dos diligentes e plutónicos sargentos que como agora se tenta fazer crer, farão a "nova revolução". Se na época dos nossos bisavós, os generais surgiam como o bicho-papão que dava a comer peixe-espada às veleidades do sistema liberal, a coisa foi irreversivelmente decaindo, delegando-se em hábeis capitães ultrajados pelas investidas igualitárias dos milicianos, os afanosos trabalhos revolucionários. Como o plano é fatalmente tão inclinado como as encostas do Evereste, parece que hoje em dia desponta a hora dos plutónicos sargentos. Imagina-se que "Nova República" ou "Novo Estado" dali sairá. Vai ser bonito, olá, se vai. Calcula-se!
Aqui deixamos uma sucinta lista, a necessária meia dúzia de questões a colocar aos raladíssimos militares, ou melhor, à ruidosa "classe" de plutónicos sargentos e tímidos superiores hierárquicos:
1. Por onde andavam quando se tratou da delegação da soberania nacional que durante séculos a fio se exerceu sobre os territórios ultramarinos? Por um momento que fosse, escutámos militares minimamente preocupados com a inegável desonra de que se revestiu a apressada retirada daquelas paragens? O que tiveramos militares a dizer acerca do alijar daquilo que os seus precursores conseguiram ao longo de séculos e já agora, do escandaloso abandono das populações que nas F.A. portuguesas confiavam?
2. Onde estavam as Forças Armadas quando os governos decidiram a adesão à então CEE, sem que alguma vez a população - o tal "povo" de que se sentem estrénuos defensores - fosse elucidada para uma posterior e irrecusável consulta de legitimização? Tais banalidades apenas bacocamente servem a povos atrasados como o da Noruega?
3. Alguma vez se escutou o mais leve queixume pela eliminação do SMO, esse já antigo e eficaz recurso que em dias de ameaça externa, poderia levantar um povo em armas? Quantos portugueses com menos de trinta e cinco anos saberão manejar uma G-3? Ficaremos então sujeitos à boa vontade de aliados de ocasião?
4. Onde estavam os zelosos militares, quando o sr. Cavaco Silva afiançou que o país não tinha de se pronunciar pelos acordos de Maastricht, dada a falta de preparação popular para a tomada de decisões? Não se sentiram minimamente perplexos por este ostentoso desprezo para com os soberanos direitos do vulgo?
5. Os atentos militares tiveram algo a dizer aquando dos acordos de Schengen? Decerto não devem ter reparado que essa abertura de fronteiras implicou a factual abolição das mesmas, assim como a completa subalternização da autoridade do Estado sobre o seu território internacionalmente reconhecido.
6. Desde quando é que os responsáveis militares ergueram as suas vozes contra o malbaratar dos recursos da nossa agora inexistente marinha mercante, colocando o país numa extrema e escandalosa dependência externa? Não nos referimos apenas a questões de comércio, mas à própria segurança nacional. Lembrar-se-ão os Estados Maiores daquilo que em termos materiais implicou a retirada da soberania nacional para o Rio de Janeiro?
7. Alguém terá dado conta dos protestos castrenses pela súbita e pessimamente preparada adesão ao Euro, decisão que logicamente teve claras implicações na perda da soberania e delegação de poderes nas mãos de directórios em tudo estranhos aos seculares interesses de Portugal?
Agradecemos o pleno esclarecimento.