Esta frase, escrita em 1853 no « A Península », periódico portuense, faz de Arnaldo Gama, que por essa altura se tornara já escritor reconhecido, uma das poucas honrosas excepções quanto ao valor da mulher que ousa ir mais além do que o que a sociedade lhe reservava: o trabalho no lar.
A regra era a de subestimar tais ambições, consideradas deslocadas, e até indício de pedantismo, quando não de " loucura "...
Exemplo dessa " aversão ", fui encontrar, por chamada de atenção de Manuel Tavares Teles, num livrinho de Camilo Castelo Branco, que escreveu usando pseudónimo ( Um Antigo Juiz das Almas de Campanhã ), em que se dirige aos
" Pais de família! Não achais bem triste
Entrar um cidadão em sua casa,
Cansado de lavrar o pão da vida,
E ver sua mulher repoltreada,
Na otomana gentil, lendo romances? "
A ironia da vida!!! Alguns anos depois de assim escrever, iria casar com uma
literata! E recordo que numerosíssimas vezes o escritor se dirige às suas " gentis leitoras ", afinal as melhores ouvintes do seu auditório.
Lembro-me de ter ficado muito espantada, aquando da primeira leitura d«Os Manuscritos de Gertrudes » ter visto esta passagem, em carta escrita à filha, na qual abordava a educação da neta: " Seria pena que não lhe dessem um verniz de inteligência: tudo o que for daí além é uma inutilidade. "
Sei que tudo isto tem de ser visto à luz da mentalidade de então, mas não posso impedir-me de sorrir ao pensar no que diria o homem de Seide se pudesse ver esta fotografia da neta, Raquel, a ler, talvez, um desses romances malfazejos.