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A histrionice balofa em torno das declarações de Isabel Jonet é a prova viva do perigoso alheamento em que paira o debate público nacional. Concordo que a generalização a respeito dos hábitos de consumo dos portugueses não foi muito feliz, nem primou sequer pelo rigor analítico. Porém, deixando de lado esse reparo, que não é de somenos - sim, o Samuel tem razão, há uma certa mitificação, ou mistificação bem vistas as coisas, na forma como comummente se fala no "viver acima das possibilidades" -, quando a presidente do Banco Alimentar afirmou que "não ter expectativas de que podemos viver com mais do que necessitamos, pois não há dinheiro para isso" não creio que tenha errado o alvo. Aliás, gostaria que me dissessem qual é a desinteligência, ou melhor, a desconformidade com a realidade desta afirmação? Nenhuma, hão-de convir. O país viveu durante anos, aliás décadas, inundado nas promessas mírificas do crédito fácil. Não poupou, não investiu parcimoniosamente, em suma, viveu e consumiu desaustinadamente. E, por mais que tentemos iludir estes factos, tal não se deveu só ao Estado. Os cidadãos participaram a seu bel-prazer na cornucópia da prosperidade ilusória. Houve desacerto nas declarações que Isabel Jonet proferiu? Houve. Mas, se formos ao cerne daquilo que foi dito, e analisarmos sem pruridos o conteúdo das palavras de Jonet, verificaremos que as mesmas não são assim tão destituídas de senso como alguns quiseram fazer crer.