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A visita da chanceler Merkel teve o singelo mérito de exibir à saciedade o eterno provincianismo deste país. Horas e horas de directos, sem qualquer sumo jornalístico digno desse nome. Não se pergunta, não se questiona, não se informa. Desinforma-se e oculta-se. Na rua, manifestam-se os janotas do costume, soltandos os chavões bandoleiros de sempre. Ao que parece, e avaliando pela amostra transmitida pelas televisões, a bicefalia bloquista teve aqui a sua primeira prova de fogo: os urros e clamores sectários cumpriram à risca as prescrições dogmáticas da nova liderança. Entrementes, Merkel fez a sua visita, efectuou a habitual diplomacia do croquete e assegurou, por mais algum tempo, a obediência atinada do bom aluno Passos Coelho. No fundo, Merkel fez aquilo que qualquer líder político, devidamente ciente das suas prerrogativas, faria no seu lugar: a defesa intransigente dos interesses do seu país. Mas, e agora questiono e questiono-me, haverá alguém, minimamente lúcido, que acredite que os Estados nacionais não vejam na defesa dos seus interesses o principal vector das suas políticas externas? A julgar pelas manifestações do dia de hoje, parece que sim. O que o Embaixador Francisco Seixas da Costa disse aqui é por de mais evidente, posto que os governos são eleitos para defender, em primeira mão, os interesses nacionais. Não nos iludamos, por favor. As relações entre Estados, por mais romantizadas que possam ser, e são-no, traduzem-se mormente naquilo a que Bismarck (aqui citado pelo Rui Crull Tabosa) qualificava como egoísmo político. E Merkel esteve aqui, sobretudo, para isso: para defender o egoísmo germânico da apoplexia financeira portuguesa. Nada mais.