por João Pinto Bastos, em 13.11.12
A borrasca económica em curso tem levado o curto-termismo, apanágio da política nacional, ao extremo dos extremos. Um bom exemplo desta maleita, talvez acidental, ou não, é o facto de praticamente ninguém abordar um tema que, a longo prazo, será absolutamente decisivo no futuro da economia e sociedade portuguesas: o decréscimo preocupante da natalidade. Haverá alguém nas nossas elites políticas e económicas - sim, já estou a pedir o impossível, admito - que faça umas continhas, e veja que, com a demografia que temos e previsivelmente teremos, as regalias sociais pelas quais tantos e tantas bradam exasperadamente serão pura e simplesmente inexequíveis. Não se trata de um apelo ideológico, meus senhores. Nem sequer de uma mera derivação financista da falência do Estado. É tempo de deixar as lérias da narrativa política dominante do regime de lado. Trata-se somente de olhar de frente para a realidade. A triste realidade das coisas. A realidade é tramada, difícil, intragável até, mas é ela que fornece as pistas do futuro. Gostando ou não, e muitos detestarão, o Estado do futuro não conseguirá acudir às responsabilidades com que se depara actualmente. É tempo de debater isto sem preconceitos ideológicos de qualquer espécie.