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Mario Vargas Llosa, A Civilização do Espectáculo:

 

«Na civilização do espectáculo o laicismo ganhou terreno sobre as religiões, aparentemente. E, entre os ainda crentes, aumentaram os que só o são de vez em quando e da boca para fora, de maneira superficial e social, enquanto na maior parte das suas vidas prescindem inteiramente da religião. O efeito positivo da secularização da vida é que a liberdade é agora mais profunda do que quando os dogmas e as censuras eclesiásticas a limitavam e asfixiavam. Mas enganam-se aqueles que julgam que, pelo facto de no mundo ocidental haver hoje percentagens menores de católicos e protestantes do que antes, tenha vindo a desaparecer a religião nos sectores conquistados ao laicismo. Isso só acontece nas estatísticas. Na verdade, ao mesmo tempo que muitos fiéis renunciavam às Igrejas tradicionais, começavam a proliferar as seitas, os cultos e toda a espécie de formas alternativas de praticar a religião, desde o espiritualismo oriental em todas as suas escolas e divisões – budismo, budismo zen, tantrismo, ioga – até às Igrejas Evangélicas que agora pululam e se dividem e subdividem nos bairros marginais, e pitorescos sucedâneos como o Quarto Caminho, o rosacrucianismo, a Igreja da Unificação – os Moonies –, a Cientologia, tão popular em Hollywood, e Igrejas ainda mais exóticas e epidérmicas.

 

A razão desta proliferação de Igrejas e seitas é que só sectores muito reduzidos de seres humanos podem prescindir por inteiro da religião, que faz falta à imensa maioria pois só a segurança que a fé religiosa transmite sobre a transcendência e a alma a liberta do desassossego, do medo e do desvario em que a ideia da extinção, do perecimento total a mergulha. E, com efeito, a única maneira como a maioria dos seres humanos entende e pratica uma ética é através de uma religião. Só pequenas minorias se emancipam da religião substituindo com a cultura o vazio que ela deixa nas suas vidas: a filosofia, a ciência, a literatura e as artes. Mas a cultura que pode cumprir esta função é a alta cultura, que enfrenta os problemas e não lhes foge, que tenta dar respostas sérias e não lúdicas aos grandes enigmas, interrogações e conflitos de que a existência humana está rodeada. A cultura de superfície e de aparência, de jogo e de pose, é insuficiente para suprir as certezas, mitos mistérios e rituais das religiões que sobreviveram à prova dos séculos. Na sociedade do nosso tempo os estupefacientes e o álcool fornecem a tranquilidade momentânea do espírito e as certezas e alívios que outrora se deparavam aos homens e mulheres com as rezas, a confissão, a comunhão e os sermões dos párocos.» 

 

Leitura complementar: O mito do individualismo extremo do nosso tempoA insustentável leveza da literatura do nosso tempoA banalização da políticaDa arte modernaDo erro da equivalência entre culturas à difusão da incultura

publicado às 12:30







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