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Eduardo Lourenço, "Nacionalistas e estrangeirados", in Heterodoxias:
«António Sérgio age, paradoxalmente, como um superpatriota. A certos respeitos, e por mais estranho que pareça, a sua atitude tem pontos de contacto com a do racionalista místico, mas também nacionalista místico que foi Fernando Pessoa. Só que Pessoa levou a abstracção, ou o sonho, mais longe que Sérgio. No fundo, Sérgio queria descobrir uma nova Índia como Pessoa, desejava um Portugal digno dessa nova descoberta como o de Quinhentos que é o objecto supremo dos seus desvelos, ele que era da Índia e Pessoa de parte nenhuma. Sérgio e Pessoa são também, como quase todos nós, herdeiros da Geração de 70, das suas visões pessimistas e hiperpatrióticas virando-as do avesso, convertidas em ironia ou sarcasmo para se vingeram da nossa imagem do presente português de que se envergonham ou os envergonha. Só para Sérgio a imagem ideal da nossa cultura existia como imagem exemplar europeia, da Europa da revolução científica atrás da qual corremos em vão, enquanto para Pessoa essa mesma Europa era também reino cadaveroso a redimir por um Portugal, futuro das nações como para Agostinho da Silva, um Portugal cuja existência histórica orgânica (não poluída pela sobrevivência ao outro) finara em Alcácer.»