Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Reavivando a memória a Cavaco Silva

por João Quaresma, em 22.11.12


 

Para quem não souber, o TV Rural foi um programa semanal de informação sobre a Agricultura e actividades associadas, da responsabilidade do Ministério da Agricultura e transmitido pela RTP entre 1959 e 1990. Destinava-se a informar, ensinar e esclarecer os agricultores, divulgando a realidade do sector e as novidades técnicas que iam surgindo (em Portugal e no estrangeiro), de forma acessível ao público. Das explorações agrícolas aos mercados, as exposições nacionais e internacionais, as novas culturas e as novas técnicas, novos equipamentos, produtos ou métodos de gestão, de tudo o que era importante se falava no TV Rural. Usando das vantagens de um meio como a televisão, fazia chegar aos agricultores (e ao público em geral) muita informação útil à generalidade do sector, de forma directa e gratuita. Com apenas 25 minutos semanais, foi um formidável instrumento de modernização da agricultura e da agroindústria portuguesas ao longo das três décadas que durou.

O seu autor e apresentador, o Engenheiro Sousa Veloso (ver entrevista ao Correio da Manhã em 2004) tornou-se numa das figuras mais respeitadas e populares da televisão, não só pelo excelente trabalho que efectuava como pela forma despretensiosa e simpática com que apresentava o programa. Nunca mais ninguém se despediu dos telespectadores «com amizade».

Mas, com a adesão de Portugal à então CEE e o desastre para a Agricultura que isso significou, o TV Rural tornou-se politicamente incómodo: mesmo não se desviando dos seus objectivos de divulgação, era impossível não mostrar a devastação provocada pela Política Agrícola Comum e pelo dilúvio de excedentes da agricultura espanhola, que chegavam ao mercado nacional com preços destrutivos, frequentemente a pouco mais do que custo de produção. A Agricultura portuguesa foi sendo arrasada e o ministro da Agricultura de Cavaco Silva, Arlindo Cunha, pôs fim ao programa em 1990, escassos quatro anos após a adesão à CEE.

Hoje continua a fazer falta o TV Rural, que foi um dos melhores serviços prestados pela RTP, no tempo em que realmente era uma televisão ao serviço do país. Na vizinha Espanha, apesar da internet e da facilidade de divulgação ela possibilita, a TVE continua a ter o seu programa equivalente ao nosso TV Rural, o Agrosfera.

Quanto ao Presidente e ex-Primeiro-Ministro Cavaco Silva, bom aluno de Bruxelas e preconizador do país de serviços, já há muito devia ter percebido que não só o país não tem memória assim tão curta, como que há assuntos em que ele simplesmente não tem autoridade para falar.

publicado às 02:00


5 comentários

Imagem de perfil

De Nuno Castelo-Branco a 22.11.2012 às 09:30

Cavaco viu bem as coisas. Não precisamos do TV Rural, o programa Agrosfera basta-nos. Então não são os produtos espanhóis aqueles que nos enchem os supermercados? 
Imagem de perfil

De João Quaresma a 22.11.2012 às 12:59

Houve ainda melhor, com um ministro da Agricultura do governo Guterres que chegou a dizer que, em vez de se criticar a entrada de produtos espanhóis, devíamos era estar agradecidos porque sem eles não comíamos. Acho que depois disso passou a evitar frequentar os meios agrícolas, não fosse levar uns merecidos tabefes.
Sem imagem de perfil

De murphy a 22.11.2012 às 16:46

"com a adesão de Portugal à então CEE e o desastre para a Agricultura que isso significou"
Será que foi a entrada para a CEE que liquidou a agricultura ou as opções dos nossos politicos, talvez inebriados pelo modo de viver da capital, que ditaram a sua sentença?

Pessoalmente, incino-me mais para a 2ª... dizer que a "CEE liquidou a nossa agricultura" é um daqueles mitos que pegou.
Saudades do Eng. Sousa Veloso...
http://jornalismoassim.blogspot.pt/ (http://jornalismoassim.blogspot.pt/)
Imagem de perfil

De João Quaresma a 23.11.2012 às 00:56

Ambas as coisas. Bruxelas ditava e os políticos aceitavam sem questionar, e levavam à prática as políticas europeias. E não tenha dúvida de que não é mito nenhum: não só se aplicou um modelo totalmente desajustado da realidade portuguesa de então, como as políticas europeias seguiam moldes dos países da Europa Central, que não tinham a ver com as nossas necessidades, nem sequer o nosso clima. Até há poucos anos, havia subsídios para o arranque do olival, uma cultura em que nós éramos (e somos) competitivos mas que não interessava aos aparatchiks em Bruxelas, que se calhar nunca viram uma oliveira na vida. Por culpa disto, Portugal passou a depender de importações de azeite para se abastecer, um completo absurdo. Fomos proibidos (nós e toda a gente excepto a Alemanha e a França) de cultivar beterraba açucareira, de que éramos grandes produtores. Nós e os espanhóis fomos proibidos de produzir tabaco. E muitos outros exemplos haverá.


Agora, dizer-se como se passou a dizer na altura, que a culpa era toda dos agricultores porque usavam os fundos comunitários para comprar jipes, isso sim é um exagero e um mito que foi criado para atirar as culpas para cima de quem foi mais prejudicado.


Os melhores cumprimentos e votos de sucesso para o seu blogue.


JQ
Sem imagem de perfil

De murphy a 23.11.2012 às 16:12

Caro João Quaresma,

Concordo com o eu comentário. Considero também que na raiz deste problema está um tema quase tabu na sociedade portuguesa: a centralização. A nível nacional e europeu.

Cumprimentos e Obrigado.

 

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas