Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Da libertação sexual ao erotismo como obra de arte

por Samuel de Paiva Pires, em 24.11.12

 

Mario Vargas Llosa, A Civilização do Espectáculo:

 

«A suposta libertação do sexo, um dos traços mais marcantes da modernidade nas sociedades ocidentais, dentro da qual se inscreve esta ideia de dar aulas de masturbação nas escolas, talvez consiga abolir centos preconceitos parvos sobre o onanismo. Em boa hora. Mas também poderá contribuir para desferir outra punhalada no erotismo e, talvez acabe com ele. Quem é que sairia a ganhar? Não os libertários nem os libertinos, mas sim os puritanos e as Igrejas. E continuaria o delírio e a futilização do amor que caracterizam a civilização contemporânea no mundo ocidental.»

 

(...)

 

O sexo só é saudável e normal entre os animais. Foi-o entre os bípedes quando ainda não éramos totalmente humanos, quando o sexo era em nós alívio do instinto e pouco mais do que isso, uma descarga física de energia que garantia a reprodução. A desanimalização da espécie foi um longo e complicado processo e nele teve papel decisivo o que Karl Popper chama «o mundo terceiro», o da cultura e da invenção, o lento aparecimento do indivíduo soberano, a sua emancipação da tribo, com tendências, disposições, desígnios, anseios, desejos, que o diferenciavam dos outros e o constituíam como ser único e intransferível. O sexo desempenhou um papel de destaque na criação do indivíduo e, como mostrou Sigmund Freud, nesse domínio, o mais recôndito da soberania individual, forjam-se as características distintivas de cada personalidade, o que nos é próprio e nos torna diferentes dos outros. Esse é um domínio privado e secreto e deveríamos procurar que continue a sê-lo se não quisermos tapar uma das fontes mais intensas do prazer e da criatividade, isto é, da civilização.

 

Georges Bataille não se enganava quando alertou contra os riscos de uma permissividade desenfreada em matéria sexual. O desaparecimento dos preconceitos, algo libertador, efectivamente, não pode significar a abolição dos rituais, o mistério, as formas e a discrição graças aos quais o sexo se civilizou e humanizou. Com sexo público, são e normal, a vida tornar-se-ia mais aborrecida, medíocre e violenta do que é.

 

Há muitas formas de definir o erotismo, mas, talvez, a principal seja chamar-lhe a desanimalização do amor físico, a sua conversão, ao longo do tempo e graças ao progresso da liberdade e da influência da cultura na vida privada, da mera satisfação de uma pulsão instintiva numa ocupação criativa e partilhada que prolonga e sublima o prazer físico rodeando-o de uma encenação e uns refinamentos que o convertem em obra de arte.»

 

Leitura complementar: O mito do individualismo extremo do nosso tempoA insustentável leveza da literatura do nosso tempoA banalização da políticaDa arte modernaDo erro da equivalência entre culturas à difusão da inculturaDa proliferação de Igrejas à substituição da religião pela alta cultura e aos escapismos contemporâneos.

publicado às 00:47


1 comentário

Sem imagem de perfil

De umquarentao a 24.11.2012 às 01:21

UMA QUESTÃO A LEVANTAR:
- O Direito de ter filhos em Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas!
.
Ainda há parolos que acreditam em histórias da carochinha... mas há que ASSUMIR a realidade:
- Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas apenas os machos mais fortes é que possuem filhos.
- No entanto, para conseguirem sobreviver, muitas sociedades tiveram necessidade de mobilizar/motivar os machos mais fracos
no sentido de eles se interessarem/lutarem pela preservação da sua
Identidade!... De facto, analisando o Tabú-Sexo (nas Sociedades
Tradicionalmente Monogâmicas) chegamos à conclusão de que o verdadeiro
objectivo do Tabú-Sexo era proceder à integração social dos machos
sexualmente mais fracos; Ver http://tabusexo.blogspot.com/ (http://tabusexo.blogspot.com/).
.
CONCLUINDO:
-
Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas é natural que sejam apenas
os machos mais fortes a terem filhos, NO ENTANTO, as Sociedades
Tradicionalmente Monogâmicas têm de assumir a sua História:
não podem continuar a tratar os machos sexualmente mais fracos como
sendo o caixote do lixo da sociedade!... Assim sendo, nestas sociedades
deve ser possibilitada a existência de barrigas de aluguer {ÚTEROS
ARTIFICIAIS – deve ser considerado uma Investigação Cientifica
Prioritária!…} para que, nestas sociedades {a longo prazo} os machos (de
boa saúde) rejeitados pelas fêmeas, possam ter filhos!
.
.
NOTA
1: Incompetência sexual não significa inutilidade... de facto, os
machos mais fracos já mostraram o seu valor: as sociedades
tecnologicamente mais evoluídas... são sociedades tradicionalmente
monogâmicas!
.
NOTA 2: Hoje em dia, por um lado, muitas mulheres
vão à procura de machos de maior competência sexual, nomeadamente,
machos oriundos de sociedades tradicionalmente Poligâmicas: nestas
sociedades apenas os machos mais fortes é que possuem filhos, logo,
seleccionam e apuram a qualidade dos machos.
Por outro lado, hoje em
dia muitos machos das sociedades tradicionalmente Monogâmicas vão à
procura de fêmeas Economicamente Fragilizadas [mais dóceis] oriundas de
outras sociedades...
-
NOTA 3: Quando se fala em Direitos das
crianças, há que olhar também para o seguinte: muitas crianças hão-de
querer ter a oportunidade de vir a ser pais!
Dito de outra maneira:
não está em causa ter (ou não ter) acesso a 'isto ou aquilo'... mas sim,
o facto da sociedade não poder estar a IMPOR BLOQUEIOS EMOCIONAIS:
leia-se, ao não legalizar as famílias monoparentais (a masculina em
particular) a sociedade está a fazer com que uma faixa (de certa forma
significativa) da população masculina não tenha filhos.
(obs: ser pai ou ser mãe não é ter uma coisa qualquer)

Comentar post







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas