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Porque temos memória e desconhecemos a ingratidão

por Cristina Ribeiro, em 30.11.12

 

"Ha hoje provas, devidas a aturadas investigações, de que nunca, durante o dominio de Hespanha, a casa de Bragança affrouxara em suas justas pretenções. D. Theodorico protestara contra o acto iniquo, que entregava a Filipe II a corôa de Portugal. ( ... ). Sondou-se a opinião das pessoas de Lisboa, quanto ao animo dos povos, e se obteve a certeza da affeição delles á casa de Bragança. ( ... )


- Margarida de Saboia, duqueza de Mantua, governava então Portugal, na qualidade de vice-rainha, titulo brilhante a que a corte apenas dava um poder limitado. O segredo dos negocios, e quási toda a auctoridade, tinha-a Miguel de Vasconcellos, portuguez, que exercitando as funcções de secretario d'estado da vice-rainha, era ministro absoluto e independente. Recebia elle directamente as ordens do conde-duque, cuja creatura era, e a quem se tornara bem-quisto e necessario pela habilidade com que tirava de Portugal grandes quantias de dinheiro. Manejando a arma do enredo, realisava os seus mais occultos desejos, promovendo odios e inimisades entre os grandes do reino, nisso assentava a segurança e tranquillidade do ministro, pois estava persuadido que em quanto os cabeças d'estas familias allimentassem odios e vinganças particulares, não se lembrarião de tramar contra o governo.


Em Portugal,só o duque de Bragança podia inquietar Hespanha. D. Theodosio, seu páe, dotado de caracter impetuoso e cheio de foge, deixou-lhe como legado todo o seu odio aos hespanhoes, que fizera sempre olhar como usurpadores da corôa. ( ... )


D. João passava, com justa rasão, por ser um dos homens mais instruidos do seu tempo, havendo rasões para crer que fôra o gosto pelos estudos sérios que o determinou a ligar á sua casa João Pinto Ribeiro, um dos homens mais eminentes d'esta epocha. Este habil jurisconsulto, descendente d'uma familia nobre d'Amarante, de raros conhecimentos, possuia animo ardente, o coração verdadeiramente patriotico, e ia tornar-se o principal agente d'uma conjuração meditada, desde longo tempo, que surgiu de repente por ter sido o resultado de longa combinação politica. ( ... )


Mantinha-se o duque indeciso, e passou ao quarto da duqueza, cuja firme resposta mais o decidiu - « Antes perecer reinando, do que viver obedecendo. Quanto a mim, senhor, prefiro ser rainha uma hora, a ser duqueza toda a vida. Pedro Mendonça, alcaide-mór de Mourão, que fôrra a Villa Viçosa sondar as disposições de D. João, transmitiu aos conjurados uma resposta que muitos delles não esperavão. ( ... )


Chegára enfim o momento dos grandes successos.


Derão nove horas : todas as lojas se conservavão abertas, e nada fazia suppor que ia começar uma grande alteração politica, no bairro onde habitava a duqueza de Mantua. No terreiro, ou largo do paço, havia tanto socego como nos tranquillos dias de Filipe III. D. Miguel d'Almeida, fidalgo velho que visitava a miude o paço, atravessava o limiar d'este quando de repente se ouviu um tiro de pistola. Era o signal convencionado, dado o qual sairão centenares de homens das carruagens, enchendo-se a praça de cavalleiros. O conspirador octogenario, e que representa a antiga fidalguia portugueza, apparece na varanda, e com a espada em punho vbradou ao povo: - « Viva D. João Iv, até agora duque de Bragança, e morrão os traidores que nos roubarão a liberdade ». ( ... )


Pinto Ribeiro, que tinha sido o homem de conselho maduro, e de alta previsão politica, foi também homem de acção na hora do perigo. Os conjurados tinham-se dividido, de modo a que pudessem obstar a qualquer resistencia. Encaminharam-se alguns dos mais ousados, com Pinto á frente, ao quarto de Miguel de Vasconcellos. Encontraram-no escondido num armario. Vasconcellos morreu sem proferir palavra, sendo Antonio Tello quem lhe deu o primeiro tiro de pistola. Os demais conjurados se arremeçaram ao cadaver do indigno ministro, e o lançarão da janella abaixo."

publicado às 22:14







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