Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
É um rotineiro reviver o passado que não voltará. A verdade é que a coisa se resume a uma saudosista agremiação cheia de cãs. Estando há muito tempo afastada do Parlamento a starlet Odete Santos - agora uma admiradora de Almeida Garrett, esse vulto dos primórdios da Monarquia Constitucional -, lá se vai o derradeiro ícone a lembrar-nos a pesadota passagem de Brezhnev pelo planeta Terra. Odete despediu-se hoje do comité central, o importantíssimo órgão democraticamente auto-nomeado. Com uma vénia, O.S. deixa a tribuna de honra de um congresso que como sempre, teimosamente imita o dentro em breve esvaziado túmulo de Lenine na Praça Vermelha. Vai fazer falta. Referimo-nos a Odete, claro, pois o assunto "limpeza geral da múmia moscovita" é da única e exclusiva responsabilidade do Senhor Putin.
A amarelecida múmia de Lenine, em refrescante banho periódico
Como homenagem ao congresso do PC, aqui fica o que há para dizer, aproveitando-se um breve trecho da entrevista da muitíssimo experiente Danuta Walesa. Visitando Portugal a propósito da sua autobiografia Sonhos e Segredos, não deixou de dar a devida importância à tribo do chefe Jerónimo:
"Diria que não compreendo sequer como se pode apoiar um partido comunista perante a experiência daquilo que aconteceu noutros países, perante o fracasso económico, o facto de não haver nada nas lojas e de haver todo o tipo de constrangimentos, as perseguições, as humilhações, a proibição da livre expressão e pensamento... Eu não sei que tipo de comunismo se defende aqui, mas posso falar da minha experiência com o comunismo tal como foi aplicado na Polónia, e da diferença entre o que um partido proclama e o que faz no poder, e o que acontece quando uma sociedade não se identifica com aquilo que o partido faz no poder. Mas é claro que há uma diferença entre o que um partido comunista pode fazer numa sociedade democrática como a portuguesa e do que pode fazer numa ditadura como fez a Polónia (...) mas concretamente sobre o comunismo, a experiência que os polacos têm é uma experiência de privação, perseguição e humilhação, portanto é natural que a ideia do comunismo gere uma forte repulsa entre os polacos. Até porque o regime comunista polaco seguia as ordens de Moscovo e nós não tínhamos qualquer capacidade de decisão autónoma".
Danuta Walesa, entrevista à revista Tabu (semanário Sol), 23-11-2012