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Vamos brincar à caridadezinha

por Samuel de Paiva Pires, em 02.12.12

Já não sei onde foi que li alguém que, citando a Bíblia, expunha um pensamento que subscrevo na íntegra: a caridade não é para se exibir, é para se fazer. E acrescento, com a caridade não se faz política, apesar de muitos insistirem em ir por aí. Mas gosto de ver várias pessoas satisfeitas consigo próprias por andarem a brincar à caridadezinha. Presumo que será pedir muito que se calem? Ou perguntar se não entendem como é ostensivo e ofensivo para muitos portugueses esse exibicionismo de um sentimento de satisfação por ajudarem os outros?  Como escreveu Camus, «Um homem é um homem mais pelas coisas que cala do que pelas que diz». E este exibicionismo é revelador quanto baste do pensamento de muitos. Pelo meio, muitos destes continuam a clamar pela destruição do Estado Social per se, sem qualificar aquilo a que se referem quando falam em Estado Social, esquecendo-se das raízes liberais e anti-socialistas do Estado Social. É que muitos adeptos da caridadezinha são também os que andam há décadas a aproveitar a "caridade" do Estado Social degenerado em Estado Socialista. Que façam bom proveito enquanto podem.

 

publicado às 18:17


6 comentários

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De Pedro M. Ferreira a 02.12.2012 às 20:54

Irrita-me de sobremaneira que brame aos altos céus que se deu a esmola a um mendigo ou que se deu ao BA um carrinho cheio de géneros... A caridade, tal como a Bíblia ensina-nos, é para ser praticada de forma silenciosa, pois assim não se confunde o amor que um acto caridoso inspira com a vaidade de um indivíduo que através da esmola procura o reconhecimento dos seus pares.

Estive presente na palestra que tu e o professor Adelino Maltez deram sexta-feira na E. Superior de São João de Deus, e ficou-me guardado na cabeça o exemplo da recta mal desenhada.

No fundo, o combate a pobreza passa por tentar desenhar uma recta perfeita. E a promoção da caridade enquanto solução política acaba por ser o reconhecimento de que como nunca iremos ser capazes de desenhar uma recta perfeita, mais vale continuarmos a desenhar a recta como sempre desenhámos.
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De Pedro M. Ferreira a 02.12.2012 às 20:55

Só para corrigir uma pequena gralha: Irrita-me de sobremaneira que se brame....
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De Samuel de Paiva Pires a 02.12.2012 às 22:01

"pois assim não se confunde o amor que um acto caridoso inspira com a vaidade de um indivíduo que através da esmola procura o reconhecimento dos seus pares." - precisamente!


Como escrevi há umas semanas (http://estadosentido.blogs.sapo.pt/2293611.html), "Aqui, entram em choque duas visões que de forma simplista denominamos como sendo de esquerda e direita. A primeira defende políticas sociais emanadas a partir do estado, ao passo que a segunda defende a acção da sociedade civil, neste caso, a caridade. Tendem, infelizmente, entre os seus apoiantes, a excluir-se. Eu acho que a virtude está no meio, e que estas duas visões não só não podem ser exclusivas, como se complementam. Um estado moderno não pode deixar de ter políticas sociais com o objectivo de não deixar cair os indivíduos abaixo de um determinado limiar de dignidade humana. E a caridade enquanto amor e serviço ao próximo, é essencial para a coesão de qualquer sociedade."




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De Pedro M. Ferreira a 02.12.2012 às 23:12

Nem mais Samuel. A virtude está de facto no meio.

Não podemos menosprezar o papel que as instituições de caridade prestam à sociedade enquanto paliativo da pobreza e da fome.  Convém é que não se esqueça que a miséria é socialmente corrosiva e que para travá-la não bastará a humildade generosa de alguns.
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De Carlos G. Pinto a 02.12.2012 às 21:35

A regra geral é, de facto, a caridade não ser algo que se exibe. Abre-se, quanto a mim, uma excepção quando esse acto assume contornos políticos. Quando há petições sempre da mesma área política para que uma certa instituição, neste caso o BA, seja boicotada, tornar pública o seu apoio não é apenas um acto de caridade, é também um (pequeno) acto político que, esse sim, pertence à esfera pública.
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De Samuel de Paiva Pires a 02.12.2012 às 21:54

Curiosamente, só vi o teu post depois deste, e percebo perfeitamente o teu post no contexto político que referes. Aliás, a caridadezinha a que me refiro nada tem a ver com as campanhas do BA ou as afirmações de Isabel Jonet. Como comentei no meu FB, tem a ver com os que andam por aí a exibi-la muito satisfeitos consigo próprios e aqueles que até se aproveitam politicamente de tal.

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