por Fernando Melro dos Santos, em 03.12.12
1. Em 2009, uma série de emails do jornalista (do "Público") Luciano Alvarez foram parar, por artes mágicas, a um jornal concorrente, o Diário de Notícias. Naquela correspondência suscitar-se-ia a suspeita ou alegação de haver um esquema de escutas telefónicas, alegadamente montado pelo gabinete do então primeiro-ministro, à Presidência da República. Meses mais tarde, um assessor do PR, Fernando Lima, é demitido. Antes, fora a vez do director do Público, José Manuel Fernandes, cujo afastamento abriu caminho para a Bloquização daquele periódico. O director do DN era, como ainda é, João Marcelino. O primeiro-ministro era José Sócrates. Nunca se soube nem nunca mais interessou se havia ou não escutas nem como é que os emails de Alvarez foram parar ao DN.
2. "A Quinta do Ambrósio, um imóvel localizado em Fânzeres, foi vendida a 15 de Março de 2001 por Ludovina Silva Prata (dona do terreno) a Laureano Gonçalves (advogado e amigo do major Valentim Loureiro), por 1.072.000 euros. No espaço de seis dias o imóvel deixou de ser do domínio da Reserva Agrícola Nacional e a 21 de Março foi celebrado um contrato-promessa de compra e venda com a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, que menos de um ano depois viria a comprar o terreno por quatro milhões de euros." fim de citação tirada da Wikipédia. Loureiro foi absolvido em Fevereiro 2012. Na mesma semana, um desgraçado que roubou um pacote de feijão-verde numa loja LIDL, no valor de €1,77, foi condenado, com custas mais de vinte vezes superiores ao montante do artigo roubado, num processo que demorou menos de três meses. Deve ter sido um sinal de progresso. Em Portugal, actualmente, são abertos, executados e resolvidos em tempo recorde milhares de processos fiscais, aparentemente os únicos crimes que não carecem de provas definitivas e que não contemplam quaisquer atenuantes circunstanciais.
3. O socialista Ricardo Rodrigues apoderou-se, em Abril de 2010, de um gravador, pertença da revista Sábado. Filmado em flagrante delito, foi julgado e condenado em Junho de 2012 pelo crime de atentado à liberdade de imprensa, mas não consta que tenha sido banido da vida política ou do partido, nem condenado pelo crime de furto. O processo demorou dois anos. Todos os dias são julgados e condenados, em Portugal, de forma sumaríssima, dezenas de cidadãos que não sabem, não podem ou não têm como recorrer às manhas dilatórias e dilutórias de que assiste aos apaniguados do Poder Estatal fazerem-se valer.