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Nada me move contra Angela Merkel. Aliás, aproveito para dizer que a figura da grande líder teutónica me merece alguma simpatia. No entanto, e como nada na vida é perfeito, o Governo germânico, liderado magistralmente por Frau Angela, resolveu aderir à moda Hollande, isto é disparar atoardas a torto e a direito à espera de que um dia, não muito longínquo, algo mude. Mas, a realidade é bem mais complexa. A desorientação que paira no Governo alemão a propósito do resgate grego é particularmente sintomática. Decide-se tudo às arrecuas, até ao dia em que a bolha rebentar de vez. Reparem nesta sucessão de eventos: são acordadas, finalmente, um conjunto de regras relativas às novas condições de financiamento atribuídas à Grécias, mas, logo a seguir, num momento à John Wayne, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, anuncia sem o menor rebuço que essas condições só se aplicarão à Grécia. Não sei se os leitores estarão a vislumbrar a dimensão da boutade proferida pelo senhor Schäuble, contudo, uma leitura fria destas declarações ajudará a desnudar a enormidade daquilo que o Governo alemão pretende fazer. Ou seja, o que os nossos amicíssimos confrades alemães querem fazer é, basicamente, impor uma dualidade de critérios que, mais dia menos dia, rebentará em estilhaços o tão apregoado projecto europeu. Ademais, haverá alguém - sim, com esta loucura toda é bem possível que haja - que acredite que critérios diferentes para situações iguais serão totalmente aceites pelos restantes países periféricos? Desgoverna-se ao sabor das sondagens, dos tablóides e dos estados de ânimo de um eleitorado irritado, em suma, destroem-se laços de solidariedade que, muito dificilmente, voltarão a ser recobrados. Das duas, uma. Ou se aplicam as mesmas regras a todos, ou, então, é preferível deixar de chamar união a algo que é uma desunião. A desunião do egoísmo.