Samuel, o pior de tudo é existir a bastante credível suspeita do senhor Pacheco Pereira - que risivelmente julga ter uma agenda política... - estar a fazer-se distraído, indo assim ao encontro da velha pecha esquerdóide acerca da caridade. Curioso, se utilizares a mesmíssima palavra nos países anglo-saxónicos, ou melhor, se a praticares, serás um filantropo, um agente benigno, exemplar. Eles bem sabem o que caridade quer dizer e limitam-se a preservar o conceito, impoluto e sem vícios de cacicagem à la mode. Os nossos daniéis oliveiras, presentes ou pretéritos, acharam por bem incluir a palavra num rol de iniquidades, até porque se ajusta perfeitamente ao mais chão anticlericalismo. O cerne da questão prende-se sobretudo como a monomania estatizante, onde "a solidariedade" - com aquelas imagens de gente aos magotes descendo avenidas de florzinhas em punho, cançonetas e homenagens a parasitas bem pensantes - faz a vez da deposta caridade. A caridade pressupõe uma constante entrega ao outro, a ajuda desinteressada, enquanto a dita solidariedade, pela triste experiência da nossa história, trata-se apenas de mero clubismo com reflexos na recompensa interesseira e num âmbito mais vasto, um excelente pretexto para a extorsão através do fisco.
Como o sr. Pacheco não é parvo, talvez fosse melhor lembrar-lhe qualquer coisa, quiçá em inglês. Serve como um bom substituto de fosfoglutina:
http://en.wikipedia.org/wiki/Charity_(practice)
e aqui, já agora:
http://en.wikipedia.org/wiki/Charity_(virtue)
A wiki é limitada, mas serve de refresco de memória e o iracundo blogueiro escusa de ir á sua bem recheada estante.
Dizes que ..."apenas porque a sua obra é meritória" ? Apenas? Isso é praticamente um autêntico programa de vida e até agora não vislumbrei qualquer seguidismo politiqueiro, Sam! Até prova em contrário, Jonet é inatacável e subscrevo totalmente a frase "viver acima das suas possibilidades", pois andamos há duas décadas enfronhados numa ilusão do crédito fácil, viagens "low-cost", carro ano sim ano não, endividamento sobre endividamento, etc. ´É esta a verdade. Há umas semanas, o acima citado comentadoreiro de domingo à tarde sugeria a substituição da sra. Jonet, até ao ponto de se atrever a pronunciar o nome de forma jocosa e sem deixar de lhe chamar "tia" - já nem sei se foi o Oliveira ou irmãzita siamesa, a ex-santanete descolorada -, numa daquelas tiradas típicas de bon à rien.
Carga ideológica abusiva tem sem dúvida, tudo aquilo que a nomenklatura arrota quotidianamente. Ali não existe nada de positivo, de palpável e que aproveite a outrém. Além do palavrório fácil, jamais os verás erguer qualquer tipo de instituição dedicada ao bem estar alheio. Jamais. Isso fica para as Jonet deste mundo.
Isabel Jonet está precisamente naquela posição em que pode permitir-se a dizer muitas coisas com as quais até poderemos estar em desacordo pela estilo, pois o que mais fica é a obra. Não valerá a pena insinuarem pontos obscuros nessa "ong" - Oliveira também a isso se referiu, claro -, passível de investigação. Tudo isto não passa de uma abjecta cortina de fumo destinada a ocultar o total fracasso de uma boa parte do regime que aliás, aqui e ali tem boa obra, bastante positiva.
Jonet não é uma figura política, pode e deve dizer livremente o que entende e decerto saberá o que significa caridade, até porque a pratica à boa maneira inglesa e já agora, norte-americana.
Pois, eu sei, sou um primário.