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Jaime Nogueira Pinto em entrevista ao i:
«Eu quando lhe perguntava se ainda sofre com a perda de soberania era a pensar nos dias de hoje e no tal directório europeu.
Ai isso sofro! Isso é uma causa como a do 1.o de Dezembro. Mas nós não vamos perder porque nada disso se vai fazer, não vai haver qualquer espécie de entendimento na Europa.
Porque tem essa convicção?
A indiferença perante a soberania política aparece muito do lado da Alemanha. O único país que tem escolha entre uma Europa federal e uma Europa desfeita é a Alemanha. Os estados que têm formação histórica de estado nacional não querem perder soberania. Para os que não têm essa forma, como a Bélgica ou até Espanha, a questão da soberania não se põe nesse termos. Nas classes políticas dominantes há uma preponderância dos federalistas e europeístas, mas muito maior que nas populações. A soberania e a independência nacional são a coisa mais importante que há.
Mas está garantida, tendo em conta a oposição das populações?
Não, está dificílima. Há uma desnacionalização enorme das classes políticas e também das empresariais. Por exemplo, a forma leviana e tonta como se acabou com o 1.o de Dezembro como feriado, um dia fundacional, que acabou na página de um decreto sobre legislação do trabalho, não lembra a ninguém. Dá um sinal de grande inconsciência política e é assustador.
(...)
É um motivo de preocupação em Portugal, a liberdade de imprensa?
Não vejo. Acho mais importante a perda progressiva da maior parte dos centros de decisão e acho horrível a indiferença com que se vê isso acontecer. Acho que há uma profunda desnacionalização das pessoas e das consciências. Isto foi tudo feito em nome da economia e as pessoas ainda não viram sequer que, mesmo do ponto de vista económico, se perderem a identidade e a independência nacional vão ser uma espécie de trabalhadores por conta de outrem, de escravos, e não sabem de quem. E fizeram isto tudo alegremente em nome da liberdade, da democracia e da igualdade, sem perceberem que o país vai estar cada vez mais dependente e vai ser cada vez menos importante. Nos anos 60 podia ser mal visto, mas era um país importante.»