De c. a 07.01.2013 às 00:20
Chamaram-lhe fundamentalista? É o fundamentalismo da sensatez e da civilização: fundamentalmente, a evolução das línguas cultas não consiste na mudança, mas na estabilização ortográfica (caso do inglês e do francês, que não mudam de ortografia há mais de 250 anos ).
Em compensação, Portugal e Brasil têm índices escandalosos de analfabetismo o e iliteracia.
É o fundamentalismo da ignorância, da vacuidade, da futilidade, e do desleixo, mas desse ninguém fala.
Mesmo.
" Invejo " por ex. o francês, quando constato que conservou muito melhor a sua raiz latina, de que nos estamos a afastar cada vez mais.
Como gosto que um sobrinho luso-italiano se chame António Giuseppe - com dois p's -; acho que esse não se vai afastar da Língua Mãe: o latim :)
De MC a 07.01.2013 às 13:20
O Português abandonou a etimologia clássica há mais de cem anos. Aquilo que agora estamos a fazer é o que deveria ter sido feito na altura. Faz tanto sentido escrever "actuar" como escrever "contracto" ou "victima", ou "septe". Se hoje, como há cem anos , não escrevemos "contracto", logo, também se deveria ter passado logo de "actuar" para "atuar", São aberrações de uma reforma reforma mal feita, a de 1911, e ninguém como os portugueses para elogiar e querer preservar aberrações. Não é por acaso que temos fama de burros.
Quanto ao exemplo do Giuseppe é a demonstração de um disparate à portuguesa praticado na ortografia italiana. Giuseppe vem de "Joseph"; abandonou-se o "J" etimológico e no lugar dele colocou-se um "G" fonético. Quanto aos "pp", estão lá para lembrar que ali havia um "ph". Um bocadinho estúpido, porque se simplifica de uma maneira, e complica-se de outra.
De Costa a 07.01.2013 às 16:03
Inenarrável aberração é o AO90 .
Você invoca as situações de excepção, onde a consoante muda não abre a vogal que a precede, como se fossem a regra e socorre-se dessas excepções para afastar a regra. Não é de boa fé, isso.
Burros somos, seremos - mais até, carneiros obedientemente a caminho do precípicio -, ao acatar essa aberração ortográfica de 1990, tão iníqua, tão cientificamente indefensável, que vem assentar a sua fundamentação em dois arrogantes argumentos que ninguém, se sério, invocaria sem se rir:
- aproximar a escrita da fala, facilitando o entendimento entre lusófonos. Como se a ortografia, uma vez unificada (que nem ficará), eliminasse as diferenças de sintaxe e vocabulário entre os vários ramos da língua portuguesa. Como se bonde passasse assim a ser eléctrico; trem, comboio; ônibus, autocarro; freios, travões (e tanta, tanta coisa mais e potencialmente mais grave). Haverá argumento mais descaradamente inválido?
- adoptar a "pronúncia" culta. Que aberrante ousadia é essa? Que pronúncia é a "culta"? A de "Lesboa", a do Porto, a algarvia, a transmontana, as das ilhas? A de um lugar remoto algures em África, de uma qualquer aldeia da Amazónia? Um alentejano de bem caracterizada pronúncia e com longo currículo universitário será necessariamente inculto, por não ser "culta" a sua pronúncia? E culto um semi-analfabeto arruaceiro nascido em Cascais?
Burros somos, seremos, se, para lá de tudo o resto, cedermos perante interesses que não são nossos nem nos servem. São do outro lado do atlântico. É legítimo que existam, evidentemente. Mas não que nos sejam impostos. Acaso precisa a língua inglesa de "AOs" para que um Inglês entenda um Australiano? O castelhano, para que um espanhol perceba um peruano? A língua francesa, para que um francês se faça entender no Québec?
E estariam ingleses, franceses e espanhóis dispostos a alterar os seus idiomas em função de ditames de povos dos seus antigos impérios? Mais ainda cientificamente crivados de erros e potenciando ambiguidades de significado?
Nós, burros (muito burros, de facto), parece que estamos.
Costa
De MC a 07.01.2013 às 16:36
Costa,
As consoantes mudas nunca abriram, nem abrem, átonas. Essa foi uma suposição errónea da reforma de 1911, a tal que eliminou o classicismo da ortografia portuguesa.
O AO não pretende unificar a sintaxe nem o léxico, apenas a ortografia. Nenhuma língua internacional tem léxico ou sintaxe uniforme, mas todas, exceto o inglês, têm ortografia unificada.
Vc disse que os ingleses e os americanos não precisam de uma única ortografia. A esse respeito, eles que façam o que quiserem, agora, que qualquer pessoa neste mundo preferia que houvesse uma única forma de escrever labour/labor ou realise/realize, e tantas outras, isso, não há qualquer dúvida que sim. Exceto quem ganha dinheiro a "traduzir" edições de inglês britânico para inglês americano, e vice versa, claro.
Por fim, nós não alterámos o nosso idioma; o que fizemos foi corrigir um erro da reforma de 1911, e essa correção vai em benefício da nossa Língua comum. Como já se percebeu, isso incomoda seriamente a "hispanidad" e a "francophonie". Por isso, não façamos nossas as dores de espanhóis e franceses que sempre toleraram mal um Portugal para além dos limites da Europa.
MC, como todos os povos, também a Língua tem uma História; querer apagar as suas raizes clássicas ( mais ainda, porque, e nisso tem razão, cada acordo ortográfico foi mais uma machadada ) é o mesmo que fazer tábua rasa da História de um povo - isso é burrice, das grandes.
De MC a 07.01.2013 às 19:48
Cristina,
História e ortografia não são a mesma coisa. Vou (tentar) demonstrar isto com casos práticos.
Os primeiros textos em Português são extremamente fonéticos e durante muito tempo a questão etimológica praticamente não se colocava.
Foi só a partir do século 16 que se começou a introduzir consoantes mudas clássicas onde elas não existiam nem tinham razão de existir, e que contribuíu até para alterar a Língua, distorcendo-a (ex: "nacer" passou a "nascer" por força da introdução do "s" etimológico, e outras coisas do género).
Será que os portugueses do século 12, 13, 14 e início do 15 eram menos portugueses do que os do século 19 e inicio do 20 porque os primeiros não usavam uma ortografia carregada de classicismos?
Ou será que Camões, que já usava alguns classicismos, era menos português que D.Dinis, que não usava nenhum?
Já agora, a Cristina e eu fazemos tábua rasa da história porque escrevemos "apelo", e os portugueses de há quase 200 anos (que se matavam uns aos outros numa guerra civil) eram grandes cultores da história porque escreviam "appello"?
De Costa a 08.01.2013 às 01:28
"Excepto quem ganha dinheiro a "traduzir" edições de inglês britânico para inglês americano, e vice versa, claro." O meu caro está decerto a fazer uma analogia com o colossal negócio que por cá se fará (se faz), em resultado dessa pérola civilizacional que será para si o aborto ortográfico de 1990.
"Vc disse que os ingleses e os americanos não precisam de uma única ortografia. A esse respeito, eles que façam o que quiserem, agora, que qualquer pessoa neste mundo preferia que houvesse uma única forma de escrever (...)". Não os vejo ou ouço preocupados com o assunto; nem parece que Reino Unido ou Estados Unidos da América se afirmem mais ou menos, enquanto potências, em resultado disso. Mas deve ser descuido meu ou minha incapacidade de análise. Só pode ser.
Adiante, é inútil continuar esta troca. Você está satisfeito com a redução da língua portuguesa a um dialecto refém do brasileiro (assim alcandorado a idioma, como por lá se pretende), em nome de uma aritmética de mercearia que reduz os povos aos milhões de almas que os componham. Eu não.
Eu escreverei "excepto" até ao fim dos meus dias e, para mim, correcção sempre terá o primeiro "c".
Saudações,
Costa
De juanito a 08.01.2013 às 21:05
A ortografia italiana é completamente fonética e o duplo P está lá porque se pronuncia de maneira diferente de um P só. Usar o italiano como exemplo do que seja revela apenas profunda ignorância.. Ou não fosse o italiano a única língua latina onde palavras como homem, humanidade ou Hungria se escrevem sem H - não se lê, bazou. O italiano é, além da sua ortografia, uma língua completamente artificial, uma unificação forçada de diferentes línguas e dialetos. Se não sabe do que fala.. err.. evite falar, diria eu.