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Desde que me lembro de ser pessoa que me recordo desta fonte, encimada pela esfera armilar, no jardim de Ferreira do Zêzere. Existem até fotografias de momentos que aqui passei de que nem sequer me recordo. Até há alguns anos, sempre que atravessava o jardim em tempo de férias de Verão, nunca o fazia sem colocar os dedos de uma mão dentro da fonte, dar uma volta à mesma e depois sacudir a água antes de seguir o meu caminho. Não me lembro quando deixei de o fazer. Talvez tenha sido quando me tornei "crescido". Mas esta fonte que marca as minhas memórias de infância mais remotas, relembra-me sempre certas coisas que se solidificaram e vão solidificando na minha mente, umas mais concretas e permanentes que outras. Sempre que venho a Ferreira, há algo novo na vila, algo que mudou, algo que foi relegado para a categoria das coisas efémeras, temporárias, como quase tudo o que se vive na sociedade contemporânea. A fonte está sempre na mesma. Dá-me uma sensação de permanência, até de eternidade e de mortalidade, porquanto aquelas memórias parecem ter acontecido ontem, mas afinal algumas até ocorreram há mais de 20 anos, e a fonte aqui continua. Só através das coisas permanentes é que a vida pode ganhar sentido. No próximo Verão, quando a fonte estiver a correr, vou voltar a colocar os dedos dentro desta, dar uma volta e sacudir a água. Depois, como hoje, como ontem, como sempre, enquanto possa, vou caminhar por aí com o meu avô, vou-lhe contar os disparates que tenho feito e ele vai-me dar mais umas ideias e lições de vida. Fica sempre por saber se as aprendo ou não.