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Marcelo Rebelo de Sousa não engana. É um comunicador por excelência e um razoável nadador. Semanalmente lê centenas de livros na diagonal. Corrigo-me, na vertical. Para além dessas recensões televisivas, comenta qualquer matéria que se lhe apresente. É um take-away da televisão. Chega ao balcão e dispõe as afirmações que alguém há de engolir, tal o entusiasmo do vendedor. Para além disso, não conheço tema que tenha rejeitado por se sentir incapacitado. É membro do conselho de Estado e funciona como preparador de atletas políticos caídos em desuso, mas que no seu entender devem regressar às equipas principais com uma nova posição em campo, um novo entusiasmo. No fundo, o Marcelo é como um olheiro que fala ao mesmo tempo. Quando disse que era conselheiro de Estado esqueci-me de acrescentar que também é conselheiro de Governo. Contudo, após largos anos de apreciação da realidade política e alegadamente da matriz cultural do país, acaba por cometer erros e repetí-los com a mesma naturalidade. A haver uma remodelação governamental, porque razão os Portugueses desejariam aqueles velhos conhecidos que nada acrescentam às funções que se lhes possam atribuir. Marques Mendes não está interessado, e porque razão Morais Sarmento é o homem certo? As opções sao escassas - afirma Marcelo. São escassas porquê? Não se encontram na sociedade civil indivíduos com sentido de Estado, com competência e independência? Não entendo esta insistência na consanguinidade política, na aplicação da máxima que parece algo mínimo - a prata da casa que nem sempre serve. A situação parece ser tão dramática por terem de recorrer a jogadores, que embora não tinha sido suspensos por actividade danosa, nada podem oferecer para alterar seja o que fôr. Se é isto que Marcelo Rebelo de Sousa apresenta como melhor proposta, aqui há gato. À primeira vista poderia dar ares de uma remodelação certeira, consensual dentro e fora do partido, por serem dois meninos políticos inofensivos. Mas não acredito. Julgo que esta ideia sem sal não acontece de um modo ingénuo. Como se o Marcelo estivesse distraído a olhar para o relógio ou a rabiscar uma nota televisiva. Podemos interpretar isto de outro modo. Ao se substituir uma peça deficiente por outra inútil, o jogo prossegue no mesmo tabuleiro e chega-se ao mesmo destino de descalabro como se nada fosse. Se um génio fosse integrado no plantel iria começar a ter as suas próprias ideias e isso seria um perigo para o governo de Passos Coelho. A remodelação leva em conta um certo perfil. Tem de ser um bicho mansinho, um político perfeitamente domesticado que não morda a mão do dono.