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À procura de justiça

por Samuel de Paiva Pires, em 04.02.13

A primeira vez que entrei na Assembleia da República foi em 2002. Tinha 15 anos de idade e era um dos participantes num projecto do Instituto Português da Juventude, o Hemiciclo - Jogo da Cidadania, tendo ficado como suplente e, portanto, limitado essencialmente a assistir. Foi a primeira vez que entrei na casa da democracia, e nunca mais esqueci o que aquele dia representou para mim, sendo determinante na mudança da minha perspectiva quanto ao que pretendia cursar a nível superior - tinha a convicção que seguiria Informática, mas foi nesta altura que Relações Internacionais e Ciência Política começaram a fazer mais sentido. Voltei a entrar no ano seguinte, no mesmo âmbito, como porta-voz pelo distrito de Santarém, tendo tido o enorme privilégio, que hoje compreendo ainda melhor que naquela altura, de discursar na belíssima Sala do Senado. Entretanto voltei a entrar mais umas quantas vezes, para assistir a conferências e lançamentos de livros, essencialmente. Amanhã, na sequência do pedido que dirigi à Comissão de Educação, Ciência e Cultura, voltarei a entrar no parlamento, mas numa condição em que nunca estive: numa audiência em que exporei os processos pouco transparentes que perpassam a Fundação para a Ciência e Tecnologia no que concerne à atribuição de Bolsas de Doutoramento na área de Ciência Política. 

 

No meio desta luta que iniciei há algumas semanas, registo algo que só por si já fez valer a pena que tenha denunciado esta situação: a comunhão com os colegas, amigos e professores da minha alma mater, bem como com outros conhecidos, alguns desconhecidos que entretanto se tornaram mais conhecidos e, acima de tudo, os amigos e a família. Agradeço a todos o apoio e a força que me têm dado. Amanhã, sabendo que estarão presentes alguns destes na sala da audiência, irei em busca de um ideal que parece ter-se esfumado de grande parte da vida pública nacional, infelizmente. Porque prefiro, como aprendi com o meu mestre, viver como penso sem pensar como vivo, rejeito o consequencialismo e não calo a revolta contra uma situação cuja injustiça se tornou insuportável. Já não sou eu, a minha situação ou as minhas circunstâncias que importam. Estas são mero pretexto para combater um mal maior, em nome de um bem ainda maior e que à comunidade dos portugueses diz respeito. Creio sinceramente que temos que fazer retornar ao centro do nosso contrato social uma há muito perdida noção de justiça, o que se faz desde logo com pequenos actos, que podemos praticar diariamente. Basta que passemos a dizer não, que deixemos de compactuar com a paz podre da mediocridade, da corrupção e da falta de transparência, e que passemos a fiscalizar mais e melhor as instituições públicas. Basta, talvez, e para finalizar, que percebamos o que La Boétie nos transmitiu no seu Discurso sobre a servidão voluntária – que não há que ter medo –, inspirado no qual o Professor José Adelino Maltez ensina que "Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá." 

 

Leitura complementar: Denúncia Pública – Dinheiros públicos, favorecimentos e discriminação: a Fundação para a Ciência e TecnologiaAssociação Portuguesa de Sociologia perplexa com a Fundação para a Ciência e TecnologiaEntrevista a Samuel de Paiva Pires (não editada)"O presente roubado por um futuro prometido"Denúncia Pública sobre a Fundação para a Ciência e Tecnologia será relatada na Assembleia da República; É já esta Terça-feira.

publicado às 23:55


1 comentário

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De raioverde a 05.02.2013 às 06:59

um passo ha muito por dar.


Que mais passos se sigam e que a podridao va sendo limpa por pessoas que tem the drive and the will em fazer um Portugal melhor.

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