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Como é o provérbio? De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos? E a corrupção? Se Portugal vive na sombra da economia de Espanha, então poderemos assumir que a prática de ilícitos que cobrem as manchetes dos jornais desse país, também se aplica a Portugal. Ao longo dos anos assistimos a um conjunto de operações de fachada levada a cabo por parlamentares para dar ares de um efectivo empenhamento na luta contra a corrupção. Mas parece que não passa de um artifício para ganhar tempo, para afastar aqueles que procuram agitar as águas. Se nada é mexido de um modo consequente, se nenhum político transforma esta missão na causa da sua vida, é porque há apenas uma explicação. Estão todos metidos ao barulho. E há diversos modos de praticar a modalidade. Como agente activo, como mediador, como receptador ou como arquivista que faz desaparecer as pastas. Não nos restringemos à disciplina clássica de dinheiro passado debaixo da mesa, ao pagamento a pronto a políticos. Há uma outra forma de influência e dissuasão que roça a prostituição. Refiro-me à corrupção imaterial que contagia as artes e letras, a academia e a cultura. A troca de favores entre membros de um clube de vantagens. Compensações desfasadas no tempo, que sugam o prestígio efectivo, o valor de anónimos verticais, gente desconhecida que acredita no seu esforço. Produzo estas afirmações porque não tenho telhados de vidro e já fui preterido por não reunir as condições requeridas. Prefiro o caminho do mérito ou demérito e nunca ficar a dever nada. Durmo descansado com as oportunidades geradas que se alicerçam no princípio de integridade. Não me espanta que o talento Português, desprovido de pergaminhos familiares e tios em lugares de influência, faça as malas e rume a outros destinos. Um país que normaliza a concessão de privilégios a amigos e maus pagadores, é um país que torna o futuro num inimigo, em falência certa. Um país que mata a ideia de entrevista ou torna os castings num erro permanente compromete-se por várias gerações. Mas regressemos à corrupção e ao trabalho inacabado. Em que estado se encontram todos os processos de corrupção que supostamente a Justiça Portuguesa deveria sentenciar e arrumar de uma vez por todas? Será que este país não passa de uma fase instrutória? Será que a suspeição leva a melhor sobre a condenação? Estou zangado, sim senhor. Porque observo o flagelo de uma outra espécie de corrupção. Uma corrupção que vibra na sociedade civil, mas que é designada de um modo diminutivo para parecer menos danosa - jeitinho, ajudinha, favorzinho, mãozinha, paciênciazinha -, quando na realidade é fatal para um país corroído pela cunha que fecha as portas àqueles de direito, os bons e honrados, os trabalhadores vindos da penúria ao encontro da recompensa merecida. E as desculpas que apresentam são muito fracas. O self-made man foi trucidado pela bactéria que procura atalhos para dissimular a mediocridade. Porque é disso que se trata. O reles que destrona o cidadão recto e que procura passar despercebido anos a fio, a vida toda se tiver sorte. Penso que chegou o momento para virar a casa ao avesso. O silêncio de muitos diz tanto...