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Naturalmente que na Geórgia está tudo longe de ser um mar de rosas.
Houve coisas que me perturbaram um pouco; e não falo apenas do facto de não ter encontrado uma única lavanderia que me limpasse os fatos a seco.
No centro histórico parece que tudo está podre e em risco de ruir. Grande parte dos trabalhos de construção e reconstrução parou quando a crise chegou e arruinou o sector, tipo exército mongol. E por detrás de um par de fileiras de edifícios com fachadas de cara lavada, jaz o esgar triste e desolador da pobreza.
Tive esta crua percepção quando resolvi subir a pé a colina Narikala para ver de perto a estátua gigantesca da "Mother of Georgia". Quando cheguei ao topo e consegui ter uma vista geral sobre Tbilisi inteira, para lá do centro da cidade, a única associação que consegui estabelecer foi com uma qualquer favela no Rio de Janeiro. Mas sem violência ou tiroteios, tráfico de drogas, prostituição ou samba. Nada de comportamentos animalescos, portanto. Apesar da pobreza, ali ainda impera o civismo.
"Our Mother of Georgia has a bowl of wine on one hand for the friends, and a sword on the other for the enemies… to cut off Putin’s head!" – foi desta maneira que o padre ortodoxo Mr. Mark, com o qual travei amizade durante a minha estadia, descreveu a sua matriarca hardcore.
Conheci-o enquanto tirava fotos a uma igreja do século VI perto da rua Leselidze. E tive que lhe dizer que a vestimenta típica dos padres ortodoxos me fazia lembrar um cavaleiro Nazgul, do Senhor dos Anéis. Foi mais forte que eu. "Yes, we are pretty fantastic! And this is one of the few places where the orthodox, catholics, muslims and jews coexist peacefully, just like the different characters of Lord of the Rings" – respondeu sorrindo. E de facto, num raio de 150 metros a partir daquele local há uma mesquita, uma sinagoga, uma igreja católica e uma igreja ortodoxa. Sem Crusadas nem Jihads.
Acabámos por ir ver "The Hobbit" com os seus dois filhos semanas mais tarde.
Com a excepção da avenida Shota Rustaveli, "O Cavaleiro na Pele da Pantera", as ruas são caóticas, sinistras, lamacentas, com ar medieval e com a guerrilha cigana estrategicamente situada em locais-chave na sua incansável busca pela esmola, em todo o fulgor da sua condição sub-humana:
- "Let go or I’ll kick you in the head!" – disse a um puto que se agarrou às minhas pernas e se pôs a gritar/ chorar/ cantar que nem um suíno na hora da faca.
- "F*ck you, American pig!" – foi a resposta que obtive. Sublinho que esta criaturazita asquerosa manifestava um inglês melhor que muitos Ministros com os quais me encontrei.
Outro aspecto algo devastador é… a mulher Georgiana típica, e a sua aparênica. Não que tenha ido para lá dar uma de macho latino ou de demigod do engate, mas há pequenas coisas que mexem com a nossa própria motivação enquanto vivemos num país desconhecido e nos tentamos adaptar ao mesmo. Desequilíbrios hormonais acentuados, capazes de suscitar o aparecimento de pilosidade densa é uma constante nas mulheres deste país.
"Dude… I keep on forgetting that I have a penis. At least until every time I need to take a piss. This is how I feel about Georgian women!" – triste desabafo do Seth, o meu colega Americano.
Mas naturalmente que há excepções. Eu ia quase diariamente à pastelaria "Entrée", na Avenida Rustaveli, para tomar o pequeno-almoço.
Nunca soube o nome dela. Talvez no fundo nem queria saber. Mas só pensava para comigo mesmo que não podia ser Georgiana (pelos motivos acima descritos).
Era sempre atendido por ela e passámos horas a cruzar olhar olhares e sorrisos. Tinha cabelo de cor escura, longo e ondulado, em contraste com a tonalidade clara da pele. E olhos pretos que pareciam duas pequenas janelas com vista para o universo profundo. Senti-me por diversas vezes tentado a abordá-la, sendo que não sou nenhum frigorífico. Mas nunca o fiz, eventualmente por receio de descobrir que poderia ser mais uma harpia predadora de contas bancárias, daquelas que arranca o coração dos mais incautos, lhes dá um par de dentadas e deixa o resto a apodrecer numa valeta infecta. Não que tivesse algum sucesso comigo, pois sou mais agarrado à nota que o Mr. Scrooge. Apenas não estava disposto a perder o meu tempo.
A conclusão última à qual cheguei acerca deste país fica alinhada com as palavras do Presidente de uma empresa de telecomunicações que conheci, cidadão Inglês: "Georgia is on the wrong side of the Black Sea. And besides its unfortunate location, its neighbors aren’t the most pleasant. The language is atrocious, the alphabet even worse, and the economy is small. But then again, Georgians are extremely friendly (sometimes too much) and here one feels at home. The potential of the country is huge and with the right Government, in some years it can become a small luxury boutique for investors in several sectors of its economy."
Saí de Tbilisi na semana passada. Vim de comboio até Yerevan, na vizinha Arménia, onde vou ficar durante os próximos meses. 11 horas a bordo de uma carruagem sobrevivente da era soviética. Desde as 20h até às 07h do dia seguinte, com uma paragem na fronteira onde pensei que me iam fuzilar. Mas felizmente creio que nem conjuntamente as minhas duas nacionalidades eram suficientemente relevantes para poder ser merecedor de uma bala na testa. Lucky me.
Entretanto quem necessitar de alguma informação ou contacto na Geórgia (na esfera empresarial ou no Governo), tem toda a liberdade para me enviar um email.