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Entre o Duce e o Cavaliere

por Nuno Castelo-Branco, em 26.02.13

 

Em Julho de 1943, o Rei Vítor Manuel III em alguns minutos daria conta de uma situação que nem os desastres militares na Líbia, na Grécia ou nas águas do Mediterrâneo tinham conseguido resolver. Imagine-se o que teria sucedido se o há muito contrariado soberano tivesse tomado uma atitude algum tempo antes? O regime fascista mantivera-se firme apesar dos bombardeamentos anglo-americanos às cidades italianas, apesar da carestia, da penúria e do controlo imposto pelos aliados alemães. A USAF ousou bombardear Roma e Mussolini saiu à rua, verificando os estragos. Uma entrevista bastaria para a derrocada de um regime alicerçado por vinte anos de poder. Roma saiu à rua numa histeria colectiva empunhando bandeiras e fotos de Vítor Manuel, gritando hossanas ao velho monarca.

 

No dia seguinte à queda do Duce, a frase mais escutada era ..."como sabes, eu nunca fui fascista". Era mentira. O Tibre corria para o Mediterrâneo, arrastando consigo uma prodigiosa quantidade de camisas negras apressadamente despidas pelos até então fiéis usuários do uniforme. Contudo, a Itália em peso tinha sido fascista até a esse mesmo dia 25 de Julho, desde o operário da linha de montagem da Fiat até à gente do escritório onde pontificava o senhor Agnelli. Em 1945, poucos dias antes do estranhamente mal contado assassinato de Mussolini, este pudera contar com um ruidoso banho de multidão em Milão, bem demonstrativo da volubilidade das massas que pouco depois iriam gozar o macabro espectáculo da Piazza del Loreto. Seguir-se-ia o escandalosamente fraudulento referendo (1946) de resultado ditado pelos norte-americanos e uma longa alternância entre mafiosos de direita e oportunistas de esquerda - nem por isso menos mafiosos -, acabando o regime PDC-PCI-PSI por cair sem estrondo. Varrida a URSS, a Itália também viu cair o sistema do pós-guerra. Seguiu-se o tempo de Berlusconi e das habilidades legais e financeiras que encontraram uma Europa habituada às transalpinas excentricidades, mas desta vez temerosa das consequências da volatilidade italiana.

 

Por muito popular que seja, o senhor Napolitano não terá a vida facilitada e nem sequer poderá recorrer a qualquer uma lapidar decisão que dite o futuro rumo dos acontecimentos. É que embora também resida no Quirinal, de Vítor Manuel separa-o um mundo e um certo sentido da história. 

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publicado às 13:21


1 comentário

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De Anónimo a 26.02.2013 às 21:24

Aquilo é uma choldra sem hipótesese alguma. O melhor seria dividir a Itália em quatro e entregar o resto aos austríacos. 

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