Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
No início dos anos 20, um aristocrata alemão propôs-se instalar um sanatório na Madeira que, além dos seus atractivos terapêuticos, contava com uma magnífica vista sobre o Funchal. Um projecto que foi muito bem visto pois traria turistas endinheirados à capital madeirense. No entanto, e antes de dar a sua aprovação, o governador do Funchal resolveu sondar a opinião de Lisboa pois desconfiou que os ingleses pudessem não gostar de ver alemães na Madeira. O que de facto era verdade: o embaixador britânico logo disse ao Governo ser absolutamente contra, pois era evidente que o verdadeiro interesse do sanatório era vigiar a presença de navios de guerra britânicos que escalassem a ilha e justificar a presença de cidadãos alemães. Os alemães sabiam muito mas os ingleses também não eram ingénuos. E, como naquele tempo o embaixador de Sua Majestade mandava e o Governo Português não tinha outro remédio que não obedecer, o sanatório não foi autorizado.
Isto a propósito do excelente post do Nuno Castelo-Branco, sobre o qual faço dois comentários.
Primeiro, e numa altura em que já se fala na possível implantação de uma base naval russa em Chipre, espero que por fim os crédulos na intrínseca bondade do investimento estrangeiro, qualquer que ele seja, aprendam que o dinheiro tem pátria, que os investimentos não se explicam apenas por interesse empresarial e que são assuntos que envolvem Política Internacional e Geopolitica, e não apenas Economia. E que finalmente percebam qual o verdadeiro interesse da Rússia na compra dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, apesar do estado caótico em que a empresa se encontra. A indústria naval russa não precisa de Viana do Castelo para nada (embora não diga que não ao seu portefólio de projectos e à tecnologia); mas tem sido um objectivo de sempre de Moscovo obter pontos de apoio à Marinha Russa em mares quentes, para obter a liberdade de acção que a geografia russa não permite. Um estaleiro competente na costa atlântica seria sem dúvida um trunfo importante, sobretudo quando a Marinha Russa adquire navios com vocação expedicionária e para manter uma presença naval longe das suas costas.
Antes de embarcar em vendas precipitadas a estrangeiros, é preciso que quem decide trate de se informar devidamente sobre a situação, nomeadamente junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Defesa, para compreender todas as implicações que um investimento estrangeiro envolve, de forma a não meter o país em grandes problemas. Já basta terem entregue a electricidade portuguesa ao Partido Comunista Chinês.
Segundo, não houve dúvida por parte dos comentadores em geral em qualificar a proposta de confiscar parte dos depósitos nos bancos cipriotas como qualquer coisa de tresloucado. E com razão, porque de facto era algo de irresponsável e tresloucado. Mas que dizer, no actual quadro estratégico (no Mediterrâneo e Norte de África em particular), da intenção do Governo de cortar em um terço as capacidades das Forças Armadas, já de si bastante abaixo das necessidades de um país como Portugal? Também temos direito às nossas medidas tresloucadas, não é?
Uigures e tibetanos, para não falar de outros povos ainda mais exíguos, põe em causa o domínio han e a homogeinedade da sua população?
Os 400 mil mussulmanos de Moscovo incendeiam carros na capital russa? Ou colocarão os povos do Cáucaso, submetidos há séculos, as fronteiras sa Rússia em causa? Talvez sejam os fino-úgricos que ponham em causa a identidade russa?
Explique-nos, caro marreca, o que se passa por lá. Tenho a certeza de que a sua estadia na Rússia serviu para algo. Eu, que não viajo há anos por estar empobrecido, gostaria de ouvir mais acerca das suas viagens por esse mundo afora. Porém, não fique com pena ou ache que me sinto mal com isso, afinal, não sou materialista.