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Os matreiros e os tresloucados

por João Quaresma, em 20.03.13

No início dos anos 20, um aristocrata alemão propôs-se instalar um sanatório na Madeira que, além dos seus atractivos terapêuticos, contava com uma magnífica vista sobre o Funchal. Um projecto que foi muito bem visto pois traria turistas endinheirados à capital madeirense. No entanto, e antes de dar a sua aprovação, o governador do Funchal resolveu sondar a opinião de Lisboa pois desconfiou que os ingleses pudessem não gostar de ver alemães na Madeira. O que de facto era verdade: o embaixador britânico logo disse ao Governo ser absolutamente contra, pois era evidente que o verdadeiro interesse do sanatório era vigiar a presença de navios de guerra britânicos que escalassem a ilha e justificar a presença de cidadãos alemães. Os alemães sabiam muito mas os ingleses também não eram ingénuos. E, como naquele tempo o embaixador de Sua Majestade mandava e o Governo Português não tinha outro remédio que não obedecer, o sanatório não foi autorizado.

Isto a propósito do excelente post do Nuno Castelo-Branco, sobre o qual faço dois comentários.

 

Primeiro, e numa altura em que já se fala na possível implantação de uma base naval russa em Chipre, espero que por fim os crédulos na intrínseca bondade do investimento estrangeiro, qualquer que ele seja, aprendam que o dinheiro tem pátria, que os investimentos não se explicam apenas por interesse empresarial e que são assuntos que envolvem Política Internacional e Geopolitica, e não apenas Economia. E que finalmente percebam qual o verdadeiro interesse da Rússia na compra dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, apesar do estado caótico em que a empresa se encontra. A indústria naval russa não precisa de Viana do Castelo para nada (embora não diga que não ao seu portefólio de projectos e à tecnologia); mas tem sido um objectivo de sempre de Moscovo obter pontos de apoio à Marinha Russa em mares quentes, para obter a liberdade de acção que a geografia russa não permite. Um estaleiro competente na costa atlântica seria sem dúvida um trunfo importante, sobretudo quando a Marinha Russa adquire navios com vocação expedicionária e para manter uma presença naval longe das suas costas.

Antes de embarcar em vendas precipitadas a estrangeiros, é preciso que quem decide trate de se informar devidamente sobre a situação, nomeadamente junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Defesa, para compreender todas as implicações que um investimento estrangeiro envolve, de forma a não meter o país em grandes problemas. Já basta terem entregue a electricidade portuguesa ao Partido Comunista Chinês.

 

Segundo, não houve dúvida por parte dos comentadores em geral em qualificar a proposta de confiscar parte dos depósitos nos bancos cipriotas como qualquer coisa de tresloucado. E com razão, porque de facto era algo de irresponsável e tresloucado. Mas que dizer, no actual quadro estratégico (no Mediterrâneo e Norte de África em particular), da intenção do Governo de cortar em um terço as capacidades das Forças Armadas, já de si bastante abaixo das necessidades de um país como Portugal? Também temos direito às nossas medidas tresloucadas, não é?

publicado às 01:36


6 comentários

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De zeca marreca a 20.03.2013 às 01:59

Cuidado, vem aí os Russos!!! Que medo do Ivan que vêm do frio comprar os nossos estleiros. O facto de uns idiotas no governo quererem vender aquilo por 10 milhões de euros, quando aquilo só em sucata vale 10  vezes mais não têm nada a ver...  É que localizações em àgua quente... hum lembro-me de uma dezenas delas, bem simpáticas e que não ficam em território da NATO... e a quem a Rússia amiude perdoa dívidas também elas simpaticas...
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De Carlos Velasco a 20.03.2013 às 02:06

Caro João,

Sei que é impossível meter tudo num post e que estás consciente da realidade, mas vale a pena lembrar aos leitores que a balança militar, política e económica pende para o lado da Rússia e da China. Para começar, vale a pena lembrar que estes países são credores do Ocidente e mantém saldos constantes. Depois temos o facto de que são duas sociedades homogêneas, ao contrário do Ocidente, balcanizado a um nível alarmante. Para terminar, lembremos que as duas únicas vantagens militares do Ocidente, que são a marinha e a força aérea americana, podem ser facilmente varridas do mapa com um ataque nuclear preventivo, contra o qual os EUA não teriam como responder eficazmente. Ainda que os submarinos americanos, franceses e ingleses revidassem, o que pode não acontecer pois as suas posições podem ser conhecidas e atacadas, tanto a Rússia como a China estão preparadas para uma guerra nuclear e não descuraram dos seus abrigos. Quanto ao Ocidente, não só descurou dos seus abrigos, como ainda por cima deixou que as suas armas nucleares ficassem obsoletas e inutilizadas. Os Minuteman e os Trident, segundo gente que estuda o assunto e possui contactos de alto nível, estão num estado muito precário, enquanto a Rússia e a China continuam a se armar a todo o vapor. O Bulava, infelizmente, é só uma nota de rodapé no meio de desenvolvimentos que não auguram nada de bom...

Um abraço.
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De João Quaresma a 20.03.2013 às 11:30

Certíssimo, mas a questão é a projecção para o Atlântico Sul. A China já comprou parte do capital de um estaleiro em Cabo Verde e já tem navios de guerra destacados em permanência na zona. Não tem ainda bases, mas tem simpatias na região e tem um papel a desempenhar na crise na Guiné-Bissau. A peças estão a ser colocadas no xadrez.
Sobre as armas nucleares americanas, ao que consta, os Minuteman estão de facto largamente inoperacionais.
Muito obrigado pelo comentário e um abraço!
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De zeca marreca a 20.03.2013 às 12:42

"pende para o lado da Rússia e da China. Para começar, vale a pena lembrar que estes países são credores do Ocidente e mantém saldos constantes. Depois temos o facto de que são duas sociedades homogêneas"


A China, e especialmente a Rússia! Sociedades homegeneas?!!!! Vocemercê também deve ser daqueles que quer ser diplomata e se queixa dos exames. O nivel intelectual desta direita, que nunca foi além da beira baixa fala por sí. Estamos conversados e convencidos!!!! Vocemercê dava um bom diplomata da nação!!!
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De Carlos Velasco a 20.03.2013 às 14:10


Uigures e tibetanos, para não falar de outros povos ainda mais exíguos, põe em causa o domínio han e a homogeinedade da sua população?

Os 400 mil mussulmanos de Moscovo incendeiam carros na capital russa? Ou colocarão os povos do Cáucaso, submetidos há séculos, as fronteiras sa Rússia em causa? Talvez sejam os fino-úgricos que  ponham em causa a identidade russa?

Explique-nos, caro marreca, o que se passa por lá. Tenho a certeza de que a sua estadia na Rússia serviu para algo. Eu, que não viajo há anos por estar empobrecido, gostaria de ouvir mais acerca das suas viagens por esse mundo afora. Porém, não fique com pena ou ache que me sinto mal com isso, afinal, não sou materialista.

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De Rocha a 20.03.2013 às 06:43


Grande delirio!

 O Senhor ve para alem da realidade!
 Agora ve bases navais russas em viana do castelo?
 Por acaso sabe que somos um pais NATO?
 so rir!!!

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