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Em 1907, D. Carlos concedeu uma entrevista ao jornal francês Le Temps e o que disse - tudo aquilo que a maioria dos portugueses julgavam necessário dizer-se - foi apressadamente recolhido pela minoritária oposição ao regime, aproveitando-se a oportunidade para a descarada subversão e acusar o monarca de se colocar como chefe de partido.
Miseráveis e doidos.
Há quem ainda não tenha percebido o que significa ter uma chefia de Estado republicana. Apenas lhe encontram indecências, quando o titular da coisa não lhes pertence e não lhes faz os ambicionados fretes. Isto serve para a esquerda e para a direita.
Miseráveis e doidos.
Em 2013 já nem sequer se poupam os epítetos, embora ainda não ousem chegar ao "canalha, Sardanapalo e cevado" com que os republicanos mimoseavam o Rei. Outrora, impunemente destilavam todo o tipo de calúnias e palavrões - um indulto real, era no dizer de A. José de Almeida em pleno Parlamento, "um broche oferecido pela Rainha Orleães" -, não existindo autoridade que impusesse o decoro. A omminosa Monarchia tudo permitia e não cuidava da protecção de reputações, da verdade e da sua própria legitimidade constitucionalmente garantida. Erros crassos que Portugal pagou e desmedidamente ainda paga. Felizmente a situação mudou, os enervados Galambas têm medo de exageros e as autoridades, no caso de lhes fazerem aquilo que outrora os seus antecessores fizeram a outrem, sabem como actuar.
Miseráveis e doidos.
O sr. Galamba soariza as bravatas, mas não foi tão longe quanto decerto pretenderia. No entanto, o que disse é suficiente para tirarmos o pulso à situação: “Cavaco quer cumprir o tratado orçamental mas queixa-se da austeridade generalizada em toda a Europa. É oficial: endoidou.” (...) “Discurso miserável de um miserável Presidente. Que vergonha”.
Miseráveis e doidos.
Chegámos a isto, o que se seguirá? Já tivemos um Presidente que ao seu Primeiro-Ministro se referia em alta voz como "esse gajo" - ouviram-no dizer isto em pleno Bel Canto -, precisamente o mesmo que pouco antes de abandonar o cadeirão belenense, publicamente se sentiu bastante aliviado por ter nomeado um governo do seu partido. Gostava de "fazer desaparecer os agentes da autoridade para longe da sua vista". Também tivemos outro inenarrável fulano que a todos os latrocínios, incompetências, aldrabices e prepotências aquiesceu sem tugir nem mugir, após descaradamente ter dissolvido um Parlamento maioritário.
Miseráveis e doidos.
Por muitos alka-selzers que sejam necessários para digerirmos os discursos presidenciais, o sr. Cavaco Silva nada afirmou de extraordinário. Resumidamente, não são necessárias novas eleições, porque:
1. Existe uma maioria que não está pelos ajustes de uma nova sampaízação a soldo.
2. Os mandatos existem para serem cumpridos. É precisamente esta, uma das características das democracias estabilizadas.
3. As eleições talvez trariam o outro partido para a chefia do governo, mas os ansiosos pretendentes apenas confirmariam tudo aquilo que até hoje tem sido feito. Sabemos o programa de cor, conhecemos demasiadamente bem os que querem ser os novos "retornados". Em suma, não vale a pena perdermos a paciência, tempo e dinheiro com mais fait-divers.
O Galamba faz-nos lembrar aquele médico que num hospício se ri por quase todos os pacientes julgarem ser Napoleão. O problema é que ele próprio ainda não reparou que usa um bicórnio e insiste em fazer repousar a sua mão direita no peito, ali mesmo entre o terceiro e o quarto botão da bata branca.
Tem razão, Galamba: miseráveis e doidos.