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Terminou o XIX Congresso Nacional do PS. Não o tendo seguido de forma detalhada ao longo dos seus três dias de duração, pude todavia acompanhar atentamente os momentos mais marcantes desta reunião partidária. Neste caso os discursos de abertura e de encerramento do Secretário-Geral do Partido Socialista. E, se de um ponto de vista de forma, António José Seguro se apresentou notoriamente bem, já no que respeita ao conteúdo da sua mensagem a mesma me suscitou, a par de alguns apontamentos positivos, perplexidades várias.
No discurso de sexta-feira foi desde logo possível descortinar duas de monta: a total ausência de referência ao papel atlântico de Portugal e à importância da lusofonia, falhas estas que Seguro teria, querendo, possibilidade de completar mais tarde. Não o fez, todavia, hoje. E propositadamente, presume-se. Seguro preferiu trocar o "Espanha, Espanha, Espanha" do seu antecessor filósofo pelo novo mote que estrategicamente encontrou: o "emprego, emprego, emprego". Sinal dos tempos e das novas prioridades políticas deste conturbado momento. Aqui esteve bem, naturalmente. Mas o mais incompreensível do discurso do Secretário-Geral do PS foi a referência a outro dos três eixos que nortearão o seu "Novo Rumo": a Europa. Aqui Seguro fez uma "fuga em frente". E, contrapondo à inexistente lusofonia no seu discurso, o líder do PS, por duas vezes, deixou claro que quer a "Europa Federal". Mais Europa, em suma. Ora neste ponto Seguro arrisca muito. E, a meu ver, arrisca mal. Não só porque os ventos e o querer actual das populações não vão no sentido que este preconiza, como também porque tal desiderato pode ser o obstáculo q.b. que impedirá Seguro de alcançar o sucesso desejado na propalada Convenção "Novo Rumo" que vai, certeiramente, convocar. Pensa Seguro conseguir convencer humanistas, progressistas e outros democratas com este seu reforçado fervor europeu? Não o cremos. E aqui chegados, das duas uma: ou Seguro rectifica e burila o discurso ou a referida Convenção "sairá furada" porque muitos dos seus potenciais apoiantes naquelas áreas torcerão o nariz a este tipo de proposta fracturante e nada consentânea com a posição tradicional de Portugal: um país europeu, é certo, mas que faz das suas relações atlânticas e com a lusofonia um dos vértices mais importantes da sua política externa mas que é hoje, também, e cada vez mais, interna.
António José Seguro e o triunvirato Assis-Seguro-Costa, que a partir de hoje dirigirão o PS - têm agora um longo caminho a percorrer até às eleições legislativas de 2015, as tais para as quais Seguro pediu uma maioria aboluta, ainda que com possíveis alianças ou acordos parlamentares. As autárquicas de Outubro, as eleições para o Parlamento Europeu e a referida Convenção "Novo Rumo" são algumas das metas de um percurso sinuoso, tempo este durante o qual terão de convencer os Portugueses da validade das suas propostas e do mérito dos objectivos apontados. Uma tarefa ciclópica esta, que tem, porém, o inegável mérito de os Portugueses poderem desde já saber com quem e com o que não contam no caminho para alcançar tão difícil desiderato: a austeridade continuará mas os seus futuros protagonistas vêm algo mais do que isso para o futuro de Portugal. É pouco, mesmo muito pouco, mas em tempos de grave crise já não é mau para começar.