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do mosteiro cisterciense de S. João de Tarouca, isto é entre a vila de Ucanha e Salzedas, onde um padre o iniciou em latim e um tio em francês; "já nesse tempo se manifesta o traço que havia de fazer dele o maior registador de coisas populares: sem saber ao certo para quê, ia apontando em caderninhos o que ouvia ou perguntava" ( Instituto Camões )
Mas é só aos 18 anos, quando vai para o Porto estudar, licenciando-se primeiro em Ciências Naturais e depois em Medicina, que começa a fazer, de modo sistemático, uma recolha de tipo etnográfico.
Quando apresenta, como tese desta segunda licenciatura, « A Evolução da Linguagem », manifesta inequivocamente uma já antiga apetência pelas letras. Envereda então pelo estudo da linguística, da etnologia, arqueologia e etnografia, domínios em que se torna uma referência no âmbito mundial.
Autor de uma Obra vastíssima, parte dessa recolha etnográfica colige-a ele no « Romanceiro Português », de que retirei este " Romance Épico de Assunto Carolíngio ":
Sentado está D. Dalfeiro - no tabulado real,
Os seus dados tem na mão - e as cartas para jogar.
- Para isso és D. Dalfeiro, - não para dar de jantar.
Tua mulher entre os mouros, - não és para a ir buscar.
Ela estava em Salcedo, - lá no palácio real.
Foi-se ele a ter com Roldão, - que era seu primo carnal.
- Um favor te peço, ó primo, - e tu não me hás-de faltar:
Tuas armas, teu cavalo, - tu me las hás-d'emprestar
- Minhas armas, meu cavalo, - eu tas não hei-d' emprestar
Que as tenho bem vezadas, - não as quero mal vezar.
- Tuas armas, teu cavalo, - tu me las hás d'emprestar,
Para ir buscar minha mulher, - às outras bandas do mar.
- Minhas armas, meu cavalo, - eu te las hei-d'emprestar,
E este meu corpo gentil, - para t'ir a acompanhar.
- Sozinho, quero ir só, - para melhor a roubar
À entrada de Salcedo - um Mourinho encontrara:
- Deus te guarde meu Mourinho, - que Deus te queira guardar;
Para onde ir à Cristana, - que rua hei-de tomar?
- Indo Rua Direita acima, - ter ao palácio real
Ela estava na varanda - e se queria pentear.
- Deu'la guarde ó senhora, - que Deus la queira guardar.
- Donde será este senhor - que tão bem sabe falar?
- Cristano eu sou, senhora, - das bandas d'além do mar.
- Se virdes lá D. Dalfeiro, - que ele me venha buscar.
- Esse recado, senhora - a ele mesmo o estais a dar.
Saltou da varanda abaixo,- por não haver mais lugar.
A sentinela, que viu, - começou logo a gritar:
- Lá se marcha la Cristana - para as outras bandas do mar!
- Cala-te aí, perro mouro, - senão vou-te matar,
- Para não morrerdes um só, - morrereis a par e par.
( Recolhido em Vinhais, Trás-os-Montes )