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A escassos meses de eleições na Alemanha (que acontecem em Setembro), poderemos desenhar, grosso modo, o mapa de viagens da austeridade. Basta pensarmos que os políticos desejam a sua sobrevivência acima de tudo e, quando encostados às cordas, não hesitarão em aplicar as medidas que melhor preservem a sua continuidade. Com as notícias que chegam sobre a aplicação de medidas de austeridade na própria Alemanha, a que se associa à recessão em França, resta saber até onde a Merkel poderá ir sem comprometer o seu futuro. Por um lado, para poupar os contribuintes germânicos, poderá exigir ainda mais cortes e ajustamentos aos governos dos países sob ajuda externa, e isso a meu ver será catastrófico, uma desgraça. Por outro lado, a Alemanha poderá começar a esboçar um novo ciclo de relações externas, em consequência da situação doméstica que mostra sinais de desgaste económico e social. Ou seja, um progressivo abandono da Europa, passando a não impôr regras económicas e financeiras tão apertadas aos países da periferia Europeia, mas com o ónus para esses países, de verem uma mão vazia, estendida. Contudo, esse possível e gradual desligamento da Europa, na sua expressão mais ortodoxa, também significa criar uma fractura no eixo principal do projecto Europeu. Por outras palavras, menos austeridade, decidida em sede de governos nacionais, traduz-se em menos dinheiros a receber. Dinheiros extraordinários e de emergência, ou aqueles fundos provenientes de quadros institucionais comunitários. A situação que estamos a atravessar, não se reduz a um jogo de soma-zero, em que um leva tudo e os outros nada. A Alemanha terá o seu momento de bliss e não de blitzkrieg, e fará este exercício de procura de um equilíbrio razoável aos olhos dos seus constituintes, mas não necessariamente aos olhos dos estados-membros do sul da Europa. A Alemanha tem uma longa história de presenças em ambos os lados da barricada. Já foi devedora e actualmente afirma-se com credora. O Cavaco Silva, que viu há escassos dias a luz de inspiração divina, também estará a pensar no próximo ciclo - aquilo que ele designa por pós-Troika. Para isso terá convocado um conselho de Estado, mas a meu ver, dada a situação de emergência em que se encontra o país, não há tempo para convívios que produzem resultados nulos. Será que a Maria, o Cavaco e o Marques Mendes sabem algo que nós não sabemos. Para o Presidente da República falar de um modo tão efusivo de um conselho de Estado dedicado ao ciclo pós-Troika, será que estava de pijama no meio da noite de Belém, quando lhe apareceu a figura fantasmagórica do protestante Martinho Lutero, portador da notícia que a Angela Merkel vai findar a sua posição de timoneira, de mister na equipa da Troika? É disso que se trata? Ou serão apenas os efeitos alucinatórios de uma qualquer água benta vertida pela Nossa Senhora de Fátima. Qual pós-Troika, qual carapuça! O homem está a delirar.