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Silva Porto, O Guardador de Rebanhos
Quando olho para a República, mormente para Cavaco, o representante-mor deste conjunto de instituições e práticas políticas apoucadas pela ridicularia dos oligarquismos, tenho a ligeira sensação de que, mais cedo ou mais tarde, o país desabará estrondosamente, quedando-se inerme sob um amontoado de escombros sem remição. O estado actual do país não aconselha grandes optimismos. Enquanto alguns, mal ou bem, criticam e apontam falhas, outros vão-se dedicando a explorar o ressentimento do povoléu, exacerbando dissídios que não existem. Desafortunadamente, a grande política, o múnus da pólis, deu lugar à fulanização extremada. O debate que vemos e ouvimos todos os dias na televisão, nas rádios e nas redes sociais tem em comum a pessoalização pueril. Esta tendência não é de agora, nem de ontem. A sociedade do espectáculo, que o situacionista Debord tão bem escalpelizou, é um dado adquirido que vem permeando de lés a lés a pós-modernidade de um Ocidente enfraquecido por relativismos esconsos. Cavaco não foge à regra. É, e sempre foi, um péssimo político. Não pelas razões apontadas pela esquerda roufenha dos Soares e companhia limitada, mas sim pela inépcia com que, desde sempre, pautou a sua acção política. Cavaco comunica mal e decide de um modo tacanho. Ademais, não sabe, por norma, avaliar as condicionantes dos diversos momentos políticos, o que faz com que a sua "práxis" política seja orientada em demasia pela revanche pessoal. Com um histórico deste jaez é fácil intuir que o actual chefe de Estado é um ponderoso factor de instabilidade, o que, convenhamos, não augura nada de bom para o futuro do regime. Com uma crise em pleno crescendo, a falta de talante político de Cavaco tornar-se-á progressivamente num carcinoma de difícil extracção. O incidente com Miguel Sousa Tavares - que, repito, teria feito bem melhor figura se tivesse estado calado - revelou, se dúvidas existissem, que Cavaco não tem a "gravitas" necessária para o exercício de um cargo que exige, em primeiríssima mão, prestígio e autoridade. Para mim, e estou certo de que para muitos, esta ausência de predicados não constitui uma surpresa. Para alguém que defende o retorno a um regime monárquico, como é o meu caso, e o da maioria dos convivas deste blogue, a depauperação a que tem sido sujeita a presidência da república é o resultado óbvio de um regime que promove a mediocridade das suas elites. O problema de Portugal começa justamente nesta palavrinha que, amiúde, é mistificada até ao delírio: elites. Sem elites que pensem, estudem, raciocinem e decidam com peso, conta e medida, não sairemos desta modorra peçonhenta que seca tudo o que floresce neste doce cantinho do Atlântico.