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Em dia de Taça de Portugal, pergunto porque razão, o actor Ruy de Carvalho terá honrado mais o país ao longo de setenta anos, do que o mestre marceneiro Rui do carvalho, que esculpiu a madeira dessa árvore durante igual período de tempo, sem sequer ter recebido as comendas, as ordens e as medalhas com que o actor foi agraciado? Com todo o devido respeito, a cultura tem muito que se diga, sobretudo quando os seus intérpretes julgam por um instante que contribuem com mais mestria para o país, do que aqueles, que em vez de pisarem palcos, pisam as uvas de sol a sol, de um qualquer outro digno mester. As palavras de rapina, soam-me a falsa modéstia, e servem para acentuar ainda mais a fractura que divide este país, entre iluminados e pobres coitados ignorantes. Não pediu nada em troca? - afirma o artista. Tivesse escolhido outra profissão. O actor Ruy de Carvalho, ao colocar-se em bicos de pé, fez-se ouvir na última fila da plateia, mas não pelas melhores razões. Teria preferido que não tivesse afirmado o seu desgosto, e fosse um mero operário, a excepção, o simples contra-regra. O problema dos vultos e intocáveis do país, é pensarem que podem dizer o que bem entendem, e que as palavras apenas um sentido têm. Ao ataque ao músculo da cultura, este representante poderia se ter defendido com mais finesse e respeito pelas gentes do povo, que tantas e tantas vezes o aplaudiram. E nunca o vaiaram.