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Hotel Helena Roseta

por John Wolf, em 27.05.13

Tenho algumas reservas em relação a este Hotel Social. Para que me faça entender, não tenho uma reserva de quarto no Hotel que pretendem inaugurar na Av. Infante Santo, mas tenho dúvidas em relação ao conceito de alojamento que pretende retirar os sem-abrigo das noites passadas ao relento. Vejo este conceito, de alegada simpatia económica e social, como um método questionável. Um hotel tem, pela sua natureza, um cariz temporário. Faço o check-in para permanecer algumas noites e depois volto à minha vidinha, se tiver essa sorte. De acordo com a vereadora; "Seria uma instalação hoteleira com preços sociais e gerida de formas sociais, mas em regime de instalação hoteleira, e não de albergue. Regime mais de proximidade e privacidade, que os albergues não têm". O que raio quer dizer uma instalação hoteleira com preços sociais e gerida de formas sociais? Não quer dizer nada. E não ajuda a resolver um grave problema estrutural, de pobreza residente que não se alivia em regime de meia-pensão com pequeno almoço incluído. Estou a tentar imaginar o sem-abrigo que ora uma noite passa no hotel, ora outra noite passa no vão de escadas. Será que esse alívio temporário contribui para a genuína integração? E há mais. Um hotel social tem quantas rosetas, perdão, estrelas? Lá por se dar um nome sexy à pensão, o problema não desaparece. Não quero escolher as palavras erradas, mas, numa interpretação mais ampla, será que o tal hotel serve para concentrar os sem-abrigo num gueto com cobertura e limpar as ruas? É isso? Não era suposto a sociedade repartir a responsabilidade pelos mais fracos, e não empurrá-los para um aterro? Acham por um instante, que um sem-abrigo, deseja se identificar com os seus pares caídos em desgraça? Ao realizar este upgrade para a suite do hotel Califórnia, a meu ver, os sem-abrigo eternizam essa condição que não autoriza cancelamentos. Serão para sempre sem-abrigo com uns dias de férias pelo meio. Em vez de lhes vender gato por lebre, "privacidade isto", "comer sentados à mesa aquilo", deveriam procurar a reabilitação definitiva. Com tantos quartos vagos que são propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, e que estão espalhados pela cidade, seria preferível pensar a solução integrada. Ou seja, um emprego com cama e roupa lavada. Uma das coisas que vejo, quando visito os jardins desta bela cidade, são as instalações de apoio utilizadas pelos jardineiros e empregadas de limpeza durante o dia, mas que durante a noite estão completamente vazias. Estes políticos da grande teoria social e eleições-autárquicas-ao-virar-da-esquina, têm de começar a pensar à escala humana, de um modo exequível e não de acordo com slogans de glamour que podem servir para vernissages de exposições. A Helena Roseta parece não ter grande experiência em dar milho aos pombos e faz as contas de somar nas costas da mão; 2000 sem-abrigo na rua? Deve estar a brincar...às casinhas.

publicado às 15:28


4 comentários

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De minhona a 27.05.2013 às 16:45



Concordo com a apreciação no que refere à abordagem do problema, de quase mau gosto: uma espécie de hotel para acolher os sem-abrigo de vez em quando. "Os" - quais? Qual -  "vez"? e qual -  "quando"? Mas aqui que ninguém nos ouve, porque seria terrível criticar uma intenção sem ter outra melhor para a troca, a sua também não é melhor. É um wishfull thinking sem possibilidade de aplicação imediata... Nem imediata, nem provavelmente alguma vez. Porque pior que as soluções lentas, escassas, e precárias para os sem-abrigo, é a complicação, morosidade, peso, que qualquer iniciativa demora a arrancar, a dar o 1º, 2º 3º e seguintes passos, sempre dependentes de uma autorização, fiscalização, assinatura, subsídio, enfim! tudo aquilo em que somos especialistas para não resolver nada. Este modelo é quase ridículo, mas se existe e está quase pronto, o que falta é definir com rigor a quem se destina...  pode simplesmente ser talvez útil para fazer face a situações extremas, que as há, e não só doenças... com possibilidade de prolongamento da estadia,  quem sabe mesmo passar a definitiva até que novas unidades sejam acrescentadas. É que o óptimo é inimigo do bom, e à conta da solução ideal não fazer nada, é péssimo. Temos de aceitar que nos tornámos num país provisório, mas no que depende de nós não precisamos de levar isso à letra. Negar um prato de sopa por considerar ser uma refeição insuficiente, aqui, cá na terrinha, é coisinha para se morrer de fome. 
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De jorge a 28.05.2013 às 12:33


pleno de bom senso! muito bem minhona .
é uma ideia tonta, da roseta, digna de outras. acho incrivel é não haver uma reação de ninguem a propor o obviamente racional. o estado social está de rastos, gasto! começar a ajudar por baixo, é adiar a exaustão e em ultima analise o fim do programa. as pessoas criam defesas e anticorpos que nenhuma agua de hotel vai lavar, nem mesa com cadeiras! se for para começar a tentar salvar quem caiu agora, talvez ainda se vá a tempo, com pragmatismo e aí esta ideia pode dar resultados. de facto as instalações do infante santo, podem receber temporariamente quem precisa dum tecto. chamem-lhe hotel ou deixem apenas a porta aberta, para quem quiser entrar e dormir. e isto pode ser já.
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De Equipa SAPO a 28.05.2013 às 15:39

Boa tarde,

O seu post está em destaque na área de Opinião da homepage do SAPO.

Atenciosamente,

Catarina Osório,
Gestão de Conteúdos e Redes Sociais - portal SAPO
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De John Wolf a 28.05.2013 às 16:12

Cara Catarina,
Muito obrigado pelo privilégio dos destaques que me têm concedido!
Cordialmente,
John 

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