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Tenho algumas reservas em relação a este Hotel Social. Para que me faça entender, não tenho uma reserva de quarto no Hotel que pretendem inaugurar na Av. Infante Santo, mas tenho dúvidas em relação ao conceito de alojamento que pretende retirar os sem-abrigo das noites passadas ao relento. Vejo este conceito, de alegada simpatia económica e social, como um método questionável. Um hotel tem, pela sua natureza, um cariz temporário. Faço o check-in para permanecer algumas noites e depois volto à minha vidinha, se tiver essa sorte. De acordo com a vereadora; "Seria uma instalação hoteleira com preços sociais e gerida de formas sociais, mas em regime de instalação hoteleira, e não de albergue. Regime mais de proximidade e privacidade, que os albergues não têm". O que raio quer dizer uma instalação hoteleira com preços sociais e gerida de formas sociais? Não quer dizer nada. E não ajuda a resolver um grave problema estrutural, de pobreza residente que não se alivia em regime de meia-pensão com pequeno almoço incluído. Estou a tentar imaginar o sem-abrigo que ora uma noite passa no hotel, ora outra noite passa no vão de escadas. Será que esse alívio temporário contribui para a genuína integração? E há mais. Um hotel social tem quantas rosetas, perdão, estrelas? Lá por se dar um nome sexy à pensão, o problema não desaparece. Não quero escolher as palavras erradas, mas, numa interpretação mais ampla, será que o tal hotel serve para concentrar os sem-abrigo num gueto com cobertura e limpar as ruas? É isso? Não era suposto a sociedade repartir a responsabilidade pelos mais fracos, e não empurrá-los para um aterro? Acham por um instante, que um sem-abrigo, deseja se identificar com os seus pares caídos em desgraça? Ao realizar este upgrade para a suite do hotel Califórnia, a meu ver, os sem-abrigo eternizam essa condição que não autoriza cancelamentos. Serão para sempre sem-abrigo com uns dias de férias pelo meio. Em vez de lhes vender gato por lebre, "privacidade isto", "comer sentados à mesa aquilo", deveriam procurar a reabilitação definitiva. Com tantos quartos vagos que são propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, e que estão espalhados pela cidade, seria preferível pensar a solução integrada. Ou seja, um emprego com cama e roupa lavada. Uma das coisas que vejo, quando visito os jardins desta bela cidade, são as instalações de apoio utilizadas pelos jardineiros e empregadas de limpeza durante o dia, mas que durante a noite estão completamente vazias. Estes políticos da grande teoria social e eleições-autárquicas-ao-virar-da-esquina, têm de começar a pensar à escala humana, de um modo exequível e não de acordo com slogans de glamour que podem servir para vernissages de exposições. A Helena Roseta parece não ter grande experiência em dar milho aos pombos e faz as contas de somar nas costas da mão; 2000 sem-abrigo na rua? Deve estar a brincar...às casinhas.