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Política e batatas quentes

por John Wolf, em 12.06.13

Numa visão de longo prazo - a la Fernand Braudel -, a grande crise económica e social que assola a Europa, a Primavera Árabe que agora se prolonga na Turquia, o défice de Democracia que parece ter atingido o coração dos fiéis dos Estados Unidos (com a implementação de vigilância apertada às comunicações)a austeridade aplicada pelos governos nacionais, a guerra na Síria ou a abstinência de Cavaco Silva, serão meras migalhas na confecção do conceito de civilização, do paradigma existente ou futuro. Os padrões existenciais a que nos habituámos e que deixámos de questionar, terão de ser avaliados de um modo intenso. Os pressupostos que definimos enquanto intocáveis estão justificadamente a ser abalados. Construímos sociedades funcionais, mas que colidem com uma certa ordem natural de proximidade, de alcance do corpo e do espírito. Faz sentido alimentarmo-nos de batatas plantadas a milhares de quilómetros de distância? Faz sentido trabalhar nove horas por dia para pagar a outrém para educar os nossos filhos? Faz sentido perder 3 horas no trânsito para sustentar a deslocação? É isto que está em causa. O modelo existencial que resultou de um processo desenfreado de aquisição, de adição, enquanto a genuína qualidade de vida foi sendo tolhida, sem se dar por isso, mas pagando um preço muito elevado. As estruturas da nossa vida quotidiana estão a ser postas em causa, obrigando os corpos sociais a reorganizar as suas células. Os governos que são a extensão da vontade humana, são responsáveis pela consolidação desse modelo fracturante, mas a representatividade que lhes conferimos não nos iliba da consciência dos factos, da nossa culpa. Em todo o caso, enquanto os governantes insistirem na mesma malha económica e social, nunca seremos testemunhas da efectiva transformação, algo distinto de um devir oportunista anunciado por prospectivos lideres que querem tomar o poder fazendo uso de argumentos que pouco valem passados alguns dias. Lamentavelmente, estamos à mercê de funcionários incapazes de pensar as grandes considerações humanas. A falência a que assistimos deve-se em grande parte a esse divórcio entre a filosofia clássica e o quotidiano. Norbert Elias que dedicou grande parte da sua reflexão àquilo que ele definiu enquanto processos civilizacionais reveladores de atitudes sociais, revelou o calcanhar de Aquiles da condição humana - a sua obsessão pela fenomenologia de massas. No estádio em que nos encontramos, tornou-se obrigatório proceder à análise anatómica das prioridades individuais. O homem tem de ser tratado individualmente. E esse exercício de procura de um sentido existencial deve ser levado a cabo por cada um de nós, independentemente do subsídio de pensamento. Os governantes a que estamos obrigados por decreto, padecem de um grande défice de entendimento, de cultura e de humanidade. Elenquemo-los um a um e veremos que não preenchem os requisítos de inteligência emocional ou social que urgentemente necessitamos. Refiro-me, sem rodeios, a todas as nações subjugadas pela mediocridade. Nessa lista incompleta de incapazes teremos sem dúvida, Cavaco Silva, Passos Coelho, António José Seguro, Francois Hollande, George W. Bush ou Angela Merkel (para mencionar apenas alguns). Serão estes os filósofos dotados para repensar o mundo? Seremos nós próprios inteligentes quanto baste para evitar colidir com a nossa diminuta estatura? No fundo os políticos nunca terão o poder de transformar profundamente as nossas sociedades porque operam na superficie que mal conseguem descascar. E de falência em falência, no jogo de estafeta que faz das pessoas armas de arremesso, entretêm-se a passar a batata quente ao próximo incompetente. Acham que fará alguma diferença o senhor que se segue?

publicado às 08:58


1 comentário

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De cincolusosoceanos a 12.06.2013 às 16:25

E os povos?

Os povos, esses são meros activos, já que são os melhores robots, providos do melhor ordenador neuronal do momento, abundantes, e muito baratos, e perfeitamente descartáveis, quando já não forem úteis e necessários para os dirigentes deles.
Traduzindo-se o seu descartar em um mero dano colateral nos seus activos, tudo gizado num Neocartesianismo que tal como o seu Neoliberalismo é serôdio, e mera capa teórica visível, da sua pseudo respeitabilidade dos seus intentos.

“O Homem é hoje visto, pelas elites políticas, como uma máquina — um robô — à maneira de La Mettrie e de Descartes”
“Nós somos máquinas de sobrevivência — robôs programados cegamente para a manutenção das moléculas egoístas, que se chama genes” (Richard Dawkins).

Tal leva-os a confundir a obtenção da felicidade do homem com a capacidade de adquirir bens materiais, e suas projecções culturais, sempre que sejam susceptiveis de serem pagos, e isso será então tomado como a representação e ostentação do sucesso, levando-o a se considerar que ter abertura de espirito é ir com a maré como a melhor forma de adaptação óptima ao presente, e que é inútil considerar outras alternativas que se lhe possam opor.
Ao propagandear junto dos povos, que deve privilegiar o conhecimento técnico produtor de bens materiais, ao conhecimento humano está-se implicitamente a afastar a cultura e o saber, até porque sabem que basta tal não estar disponível curricularmente para ser evitado porque “Para se ser aberto ao saber, há certas coisas que uma pessoa tem que conhecer, as quais a maioria das pessoas não está para se incomodar a aprender e parecem ser aborrecidas ou irrelevantes” fomentando-se assim a lei do menor esforço.
Considera-se assim que aprender, Literatura, Musica, Artes e Filosofia, com a consequente discussão do que é o homem, a ética e os valores, e o do que belo e mesmo o que é ecologicamente sustentável desde que quarte o “progresso” é pura perca de tempo.
Tal deixa o cidadão desarmado perante o sistema, sem a capacidade de ser consciente e discutir o presente, e com isso ser capaz de por em causa a opinião dominante, tornando-se assim dócil de governar.
Então tudo que torne facilmente acessível o saber humanístico e artístico, em suma a cultura, é algo a desencorajar e tornar difícil de adquirir pelo cidadão comum, e isso passa por considerar uma inutilidade a cultura, excepto se ela poder ser ostentada como bem adquirido. Os meus quadros, os meus livros raros, as minhas peças de arte, os meus concertos, e por aí fora, como representação do seu poder aquisitivo, do meu êxito no sistema, e do meu status.
Então se considera como despesa tudo o que seja cultura, pretendendo objectivamente dificultar ao cidadão comum o acesso a um bom e isento Serviço Público de Radio e Televisão, ou Bom Teatro, ou Bom Cinema ou Boa Musica, ou Boa Filosofia, ou Boa Literatura, ou uma outra forma de Arte com qualidade, ou mesmo até Bons Jornais e Revistas, tão só com o pretexto de ser um fardo despesista, pelo qual só uma minoria se interessa, e por isso ela que pague!
Pode-se assim tornar a Cultura descartável, sendo tal falácia tanto mais bem aceite, logo que a programação de tudo seja manifestamente indigente, como é hoje, fruto de anos e anos de manipulação para servir os interesses políticos dos governantes, e não os interesses culturais das populações, e a sua elevação como seres culturais tornados relevantes, isto é: Cidadãos!
«(...) com o culto excessivo da especialização, os homens desaprendem a sua tarefa essencial de ser humanos e de entender os problemas fundamentais dos outros homens. A Universidade hoje, por exemplo, a Universidade americana, a alemã, podem formar técnicos excelentes mas rarissimamente formam homens.» --- Agostinho da Silva
Os Conhecimentos que não sejam obviamente uteis para uma carreira, não têm lugar na visão Neoliberal do Conhecimento, por isso se confunde sucesso, com sucesso material, e o êxito como a adulação pelas honras que se procuram alcançar, custe o que custar e sem olhar como, desprezando a Ética e os Valores como obsoletos, e endeusando os bens que se ostentam como expoente máximo do êxito.
Ao trocar o Ser pelo Ter o Homem deixou de ser civilizado e perdeu humanidade!
JB

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