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A pergunta é simples: quem quer ser professor por um dia que seja? Quem deseja acartar injustamente com os pecados e os défices dos outros? - A educação que não foi dada aos alunos pelos papás e pelas mamãs. A má criação que escoa directamente da sarjeta para a sala de aula. Quem quer trabalhar de acordo com modelos que não se adequam ao perfil cultural do país? Como podem constatar, tinha colocado uma pergunta que afinal se desdobra em muitas sem resposta. Desde que eu me lembre, os professores tiveram sempre mobilidade e não era pouca. Era imensa, de norte a sul do país. Quem não conhece o professor de Trás-os-Montes colocado no Algarve? Aqueles que tiveram de abandonar as suas famílias e prescindir de uma ideia de continuidade na residência, o sonho de viver na terra de origem. A profissão foi quase sempre malentendida pelos governantes de Portugal. Houve até quem a quisesse canonizar elevando a missão educativa a acto de fé, a bandeira de partido. Lembram-se de Guterres e a sua paixão? E houve outros como Roberto Carneiro que foram também cardeais da causa. Estou certo que mesmo que pagassem uma tarifa tripla a prospectivos docentes, não seria líquido que aceitassem o emprego. Por vezes não há dinheiro que chegue para pagar os ultrajes. Conseguem imaginar leccionar na franja da sociedade uma qualquer disciplina do programa curricular, quando no fundo estão a operar a múltiplos níveis que deveriam ser tratados por psícólogos, técnicos de reinserção social e polícias? Os professores levam para casa tantas horas extraordinárias que deixaram de ser horas, considerações de ordem pedagógica, trabalhos de casa, e, para além dessa normalidade, são obrigados a sacar da sua consciência para levar a bom porto uma barca tempestiva repleta de repetentes de um sistema caduco. Não existe repelente que consiga afastar dos professores os pesadelos, o stress, a insónia antecipada pela semana que se segue. A outra questão que coloco: quem quer ser manifestante por um dia apenas? Quem deve caminhar ao lado dos professores, se grita em nome dos docentes e de Portugal? Vou directo ao assunto. Se António José Seguro sente o mesmo ardor no peito que Guterres sentiu, então deve estar nas ruas, lado a lado com aqueles que alegadamente foram intimidados pelo governo, mas o lider socialista, se não está em Roma com o Papa, está noutro encontro ecuménico. No meio destes confrontos e da greve aos exames nacionais que se avizinha, os alunos irão agravar ainda mais a sua débil condição de aprendizagem. Na Segunda-feira provavelmente irão regredir na sua capacidade de expressão em língua portuguesa, a que se seguirão mais murros nas restantes disciplinas. Resta saber se os milhares de alunos devem ser tidos enquanto moeda de troca, ou se chegará o dia em que os próprios alunos se manifestam, para rejeitar de uma assentada, e em simultâneo, os políticos e os professores. A linha ténue que separa a sustentabilidade cognitiva e pedagógica do país, do perfeito caos, está a ser pisada. Qualquer dia para haver alunos nas salas de aulas teremos de ter uma requisição estudantil. Repito a pergunta: quem quer ser presidente do conselho directivo? Quem quer ser presidente? Quem quer Portugal?