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Por um mundo melhor

por José Maria Barcia, em 17.06.13

 

 

Tenho irmãos mais novos. A mais nova tem agora 4 anos e é feliz. Corre de um lado para o outro sem saber que um dia vai perceber o que a rodeia. Ainda não sabe que existem pessoas más, movidas pelo ódio, pela intolerância, pela ganância. Se pudesse privaria-a desse mundo, mas não consigo.

 

O mundo que podemos deixar a quem está a chegar é uma vergonha. Deixamo-nos corromper por falsas sensações de bem-estar a troco da liberdade de ser, fazer e pensar. Deixamo-nos ser enganados porque ‘’não tinha nada a ver connosco” na altura. Desde os tempos da escola, em que gozámos com este ou com aquele, desde o dia em que não tivemos coragem de impedir um acto injusto ou fomos injustos e não pedimos desculpa.

 

O mundo que nos deixaram não foi o melhor mas isso não quer dizer que possamos desistir. Que mundo este onde a democracia deixou de proteger os mais frágeis que nós? Onde os novos têm medo de não ter futuro e os velhos não têm segurança para o amanhã? Como é que se aceita esta política que não é natural?

 

Não é natural prejudicar o próximo. Não é natural privar alguém de ser quem quiser ser, como quiser ser, quando quiser ser. Não é natural tornar outros infelizes.

 

Vivem-se temos difíceis mas não temos que os aceitar. Não é humano aceitar que os outros chorem porque já não têm alternativa a desistir. Não é humano dar a liberdade em troco de comodidade, cada vez mais residual. Todos temos medo de pior. Piores dias com maiores faltas. Falta dinheiro, faltam sonhos, faltam condições, falta o futuro que nos teimam a tirar. Mas se todos temos medo, estamos todos juntos. A liberdade foi tomado por pequenos grupos que se acham donos daquilo que é de todos.

 

Desde novo que me ensinaram que a democracia era o único regime onde o poder estava nas pessoas e era das pessoas. Nesse caso, porque temos medo de quem trabalha para nós? Daqueles que não são mais que meros funcionários com o objectivo de governar aquilo que é nosso e de todos? Porque toleramos os intolerantes? Aqueles que nos incutem medo do futuro e nos obrigam a contentar com cada vez menos? A crise é o novo bicho papão. A crise e a dívida, o défice e o desemprego, a troika e os trocos que escasseiam. As crianças já não têm medo dos monstros debaixo da cama: hoje temos todos medo do futuro. É incerto, como tem de ser. Mas aqueles que governam pelo medo, perdem a legitimidade de serem nossos representantes. Nós, as pessoas. Somos cada vez mais indiferentes ao outro. E os outros já se desinteressaram de nós. Tornamo-nos egoístas, fechados no nosso centro de conforto, com a nossa família e os nossos amigos. Esquecemo-nos do mundo que está fora deste circulo.  A Humanidade somos todos e mesmo assim protegemo-nos com fronteiras, barreiras, fobias e intolerâncias. Cada vez mais somos mais parecidos com bestas que com homens e mulheres.

 

Tenho 23 anos e a minha irmã mais nova tem 4.

Tenho 23 anos e não sei a idade de quem vive pior e tanto pior que eu.

Tenho 23 anos e deixei que os conflitos e as guerras se tornassem parte do meu quotidiano. Vejo todos os dias autoridade desmedida quer pelo lado dos governos quer pelo lado daqueles que acham na rua, violentamente, se pode destruir a democracia.

 

Tenho 23 anos e já me envergonho quando vejo que sou capaz de passar ao lado de alguém a dormir sem tecto sem sentir um mínimo de compaixão. Deixamo-nos de ajudar.

Mas tenho 23 anos e já me apercebi disso. Não tenho medo quando sei que o que é natural é a entreajuda entre pessoas. Há tantas divisões. Somos todos diferentes. Isto é natural. Mas um adversário não é um inimigo. Os inimigos não são naturais e esses devem ser combatidos.

 

Aos que nos governam e aproveitam a posição para os seus interesses;

Aos que não toleram a diferença;

Aos gananciosos;

Aos racistas;

Aos homofóbicos;

Aos que usam a violência como modo de subjugar os outros;

Aos que não respeitam a liberdade;

Aos que odeiam;

E a todos os outros que se tornaram máquinas e perderam o que me fazia chamar-vos pessoas:

 

Eu não tenho medo. E, mesmo sabendo que vai durar a vida toda, não vou deixar que ganhem.

 

A minha irmã terá um mundo melhor.

publicado às 20:12


8 comentários

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De Cristina Guerreiro a 17.06.2013 às 21:19

Mto orgulho nessa ética que partilho e tb na leveza da sua escrita, de alma arguta... E para os dias mais amargos fica a certeza que a vida se constrói todos os dias, que o presente nos pertence em cada pequeno gesto e dele pode resultar um caminho mais digno para todos, os que amamos e todos os outros que partilham esta nossa Terra. Até mais!
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De José Maria Barcia a 18.06.2013 às 18:50

Obrigado Cristina!
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De Duarte Meira a 17.06.2013 às 21:24

«Que mundo este onde a democracia deixou de proteger os mais frágeis que nós? ... »

Uma boa pergunta para ser respondida por quem defende o abortamento... Não certamente por quem diz que "não é natural prejudicar o próximo"!

Depois, José Barcia, queixe-se da desumanização progressiva que se vai insinuando e pervadindo toda a vida social nestas partes ricas e entediadas do mundo...
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De José Maria Barcia a 17.06.2013 às 21:31

Como diz o outro: Duarte, estou cheio de te ouvir.


P.S. Escreve-se aborto.
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De Duarte Meira a 17.06.2013 às 23:16


José Barcia:

Medicamente, deve dizer-se "abortamento" o acto de abortar (como os brasileiros, normalmente); e diz-se "aborto" o resultado ou efeito, natural ou intencional, desse acto.

Como tem 23 anos, ainda tem tempo de se informar um pouco sobre embriologia humana, e, já agora, frequentar algumas lições de lógica elementar.

Não me ouvirá mais.
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De Ana Isabel a 18.06.2013 às 01:57

Partilho na íntegra o seu texto.É pena é que muitos dos que usam esta página, não partilhem de sentimentos tão nobres e tão belos como os seus.Nunca desista de lutar por um mundo melhor.Bem haja JOSÉ
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De José Maria Barcia a 18.06.2013 às 18:50

Obrigado Ana Isabel.

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