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Desfecho de uma greve terrorista

por João Pinto Bastos, em 17.06.13

1) Para início de conversa, e dado que o dia está quase a terminar, há que sublinhar o seguinte: o sindicalismo contemporâneo, nas suas variantes nucleares, é um dos últimos redutos do burocratismo mandrião do chamado Estado social. O ocaso do operariado industrial e a terciarização das economias deslocaram o centro de gravidade do trabalho para os serviços. Os sindicatos, como não poderia deixar de ser, sofreram acerbamente o embate dessa transformação. Hoje, a orgânica do protesto vive, em grande medida, do funcionalismo acomodado. O sindicalismo já não é, pois, um assunto limitado às precisões dos "blue-collar workers". O mundo mudou, e muito, mas os Mários Nogueiras continuam a viver ensimesmados na lógica das vaquinhas gordas regadas a crédito. O paradigma sindical tem de mudar o quanto antes, a bem da comunidade.

 

2) A greve de hoje deve ser analisada sob um único prisma: os alunos foram ou não prejudicados? A resposta é claramente afirmativa. O que importa relevar é o facto de meia dúzia de sindicatos, acolitados por algumas figurões irresponsáveis, terem tentado prejudicar os interesses de terceiros de boa fé. Como qualificar uma greve que visa, premeditadamente, prejudicar os alunos? Ilegítima? Não, a greve em causa foi bem mais do que isso. Muito mais. Uma greve destas é, forçosamente, uma greve terrorista. Quando os alunos são deliberadamente prejudicados nos seus estudos por aqueles que deveriam ser os seus maiores protectores, estamos, de feito, perante um terrorismo muito especial: um terrorismo psicológico de gente que não se importa de usar os alunos como arma de arremesso na barganha das suas exigências corporativas. 

 

3) Os números da greve pouco importam. Não é a percentagem da adesão que determinará ou não o sucesso da dita cuja. Mais: ao que tudo indica 70% dos alunos fizeram a prova. Os que não a fizeram terão a oportunidade de a fazer no dia 2 de Julho. Não obstante a imensa pressão a que foi submetido, Nuno Crato conseguiu sair-se com um mínimo de airosidade desta situação periclitante. Ademais, os adeptos do igualitarismo, que têm enchido as bocarras com sermões de chacha, deveriam fazer uma contrição. A lógica do conflito tem os seus limites. 

 

4) A conclusão magna a retirar deste berbicacho é que a reforma da educação nacional continua por fazer. Porquê? Por uma razão mui singela: na 5 de Outubro, o paradigma da escola pública e gratuita permanece incontestado. Os leitores têm ouvido falar em descentralização, liberdade de escolha ou autonomia de gestão? Não, com certeza que não. Por mais troikas que aterrem neste país, será extremamente difícil reformar o que há para reformar, enquanto não houver uma mudança radical de chip. A educação é um bom exemplo. As alterações feitas pela equipa de Crato não passam de meros remendos num edifício que, em bom rigor, já deveria ter implodido. A burocracia que gira em torno do ministério, e o centralismo jacobino que domina há muito a educação pública, são o cerne da questão. Se juntarmos a isto o sindicalismo rasca de Mário Nogueira e os pedagogos piagetianos que cirandam em torno do Ministério temos, pois, o desastre perfeito. O desafio é muito simples: ou se reforma o sector, privatizando e descentralizando as escolas, dando autonomia e liberdade de escolha aos pais, ou a educação deste país será abocanhada, mais dia menos dia, pela falência estrepitosa da ideologia do público a todo o custo. O tempo urge.

 

publicado às 23:27


21 comentários

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De H Rodham a 18.06.2013 às 01:02

Greve terrorista o crl. Terrorista é este governo de pulhas e labregos. Marx nas escolas? Um trauma que os mesmos do costume, os frustrados que nunca trabalharam e nunca fizeram nada de útil na vida, insistem em mostrar. Veremos quem ri por últimi, não perdem pela demora.
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De Mais Cultura a 18.06.2013 às 10:51

O seu conceito de democracia deve ser inspirado nos modelos da Cuba ou da Coreia do Norte!!!
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De Anónimo a 18.06.2013 às 12:25

Falemos dos sindicalistas: exemplo de trabalho árduo...
E isto que os de esquerda são: intolerantes quando discordam das opiniões deles, mal educados, prepotentes e arrogantes. Se fosse alguém de direita a comentar assim seria logo denominado de fascista, nazi ou algo pior.
E este e um dos problemas do nosso pais (e dos do Sul da Europa): uma enraizaçao da esquerda extremista, que mantém o mesmo discurso há décadas, apesar da mudança dos tempos, sem saber referir alternativas viáveis, e que se julga moralmente superior aos outros em redor. 
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De Anónimo a 18.06.2013 às 12:29

Sempre trabalhei e em mais que um sítio ao mesmo tempo, fora do serviço publico. E sim espero que nunca o marx apareça nas escolas. Chamar frustrado a quem não apoia marx parece frustração por não haver mais gente a apoiar essa figura de barbas, ou o regime estalinista ou da Coreia do norte 

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