Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




A minha Pátria vai muito além da Língua Portuguesa.

por Cristina Ribeiro, em 18.06.13

Desde sempre aquela máxima Pessoana « A minha Pátria é a Língua Portuguesa » a tive como linguagem  poética: a língua nacional é elemento fulcral da Pátria, mas, de maneira alguma se confunde com ela; e comecei a pensar que o seu uso estava a ser manifestamente excessivo. Agora encontro voz autorizada, porque de patriotismo à prova de bala, a superiormente avalizar essa ideia.

             São do Tenente Coronel Brandão Ferreira estas eloquentes palavras, recolhidas no jornal O Diabo: " Há uma frase que entrou na moda, que é do Pessoa que, embora possa ser dita com a melhor das intenções, se torna perigosa [ porque passível de veia redutora, penso eu ] ( ... ); ora, a minha Pátria não é só a Língua Portuguesa. É um elemento fundamental, pelo qual me expresso, e afirmo português, mas a Pátria é muito mais do que isso. "

Faltam a História, a corrente que nos liga ao nosso passado, a cultura unificadora de um Povo...

publicado às 00:18


6 comentários

Sem imagem de perfil

De Duarte Meira a 18.06.2013 às 14:39


Pessoa, aliás Bernardo Soares, falava enqunto só artista, e artista da palavra não indigno do "imperador" Vieira. Não tudo o que o exegeta do Bandarra, o autor da Mensagem, de O Interregno e, até, das Quadras "ao sabor popular" tinha para dizer sobre a Pátria!...

E vale a pena transcrever o tercho pertinente, neste blogue, que diz NÃO ao novel "acordo" ortográfico:

« Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m´a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. »


Quanto ao mais, é claro que a Cristina tem razão. A Pátria começa pelas pessoas e pelo que elas fazem com o património herdado dos Pais. Pessoas como a D. Idalina, de quem nos falou aqui há dias; mas também como esse cultíssimo e sofisticado Fernando, cuja herança ainda nos servirá e continuaremos a apreciar neste XXI.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 18.06.2013 às 15:11

Reconhecendo o contexto em que tal frase é proferida, num contexto que visa a defesa da pátria língua, insurjo-me apenas contra o uso abusivo da mesma, numa interpretação redutora que o nosso genial Fernando António nunca, no meu ponto de vista, lhe quis dar: confirma-o, precisamente e nomeadamente, nessa Mensagem referida pelo Duarte, em que glorifica alguns dos que ajudaram a fazer da Pátria coisa muito maior.
Sem imagem de perfil

De Mário a 18.06.2013 às 14:40

É sempre necessário ter algum cuidado ao comentar frases dos grandes homens, porque eles não se limitam a emitir sentenças lógicas. Se entendemos a Língua apenas como um conjunto de palavras, a frase perde até qualquer poder evocativo. 


A importância da língua pode ver-se na acção que os revolucionários intentam para deturpá-la, porque quem manda da língua pode ordenar as consciências ao seu modo.


Se "escavarmos" a língua portuguesa não vamos encontrar apenas o latim e o grego, vamos encontrar os próprios gregos e os romanos. Quando alguém fala uma língua é a própria civilização que fala através dele. A maior parte de nós não passa de bonecos de ventríloquo, e passamos a vida iludidos que temos os nossos desejos, as nossas ideias, as nossas percepções, quando apenas somos veículos de ideias e sonhos alheios. 


A verdadeira utilização da língua, o adquirir uma voz própria, é quase que um processo religioso.  Neste, o homem descobre a liberdade não quando se livrou de todas as amarras mas quando participa conscientemente do acto criador que o transcende mas lhe dá a liberdade de ser o primeiro elemento de um corrente causal. O homem que consegue ver na língua a sua pátria é aquele que já integrou em si "todas" as possibilidades da língua - tornou-se verdadeiramente civilizado - e agora é capaz de dizer algo que não estava contido na língua. 


Além disso, aquilo que não está contido na língua é o indizível. Podemos achar que nada é inteiramente dizível e por isso a língua é apenas mais um elemento da realidade, entre outros. Mas isso é ignorar uma característica essencial da língua: ela não é um processo fechado e puramente interno. A língua pressupõe não uma pessoa falando mas um diálogo entre consciências que percebem o indizível e falam a partir daí. Isto acontece mesmo com o escritor solitário, que apenas consegue falar consigo mesmo porque há toda uma percepção não-verbal e uma consciência das latências das palavras.


Por estas e, certamente, por muito mais coisas, não é o mesmo ser Pessoa ou um "homem do seu tempo" dizer que a "A minha pátria é a língua portuguesa."O primeiro, parecendo que procura um refúgio, abre-se para a realidade. O segundo, parecendo que se abre para o mundo, fecha-se num discurso vazio.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 18.06.2013 às 15:20

Obrigada, por tão suculento comentário, Mário!


" O homem que consegue ver na língua a sua pátria é aquele que já integrou em si "todas" as possibilidades da língua - tornou-se verdadeiramente civilizado - e agora é capaz de dizer algo que não estava contido na língua. ( ... ) não é o mesmo ser Pessoa ou um "homem do seu tempo" dizer que a "A minha pátria é a língua portuguesa."O primeiro, parecendo que procura um refúgio, abre-se para a realidade. O segundo, parecendo que se abre para o mundo, fecha-se num discurso vazio."
ImageImage
Sem imagem de perfil

De Duarte Meira a 18.06.2013 às 21:16

Não enfatizei bastante que a célebre frase é de de um delicado e entediado esteta sensacionista – Bernardo Soares –, tão desdenhoso da política (e de tudo o que lhe cheirasse a colectivo, a multidão), como indiferente a ela era também Alberto Caeiro.

Já agora, Cristina, deixe-me lembrar este trecho:

« O meu intenso sofrimento patriótico, o meu intenso desejo de melhorar o estado de Portugal, provocam em mim – como dizê-lo com que ardor, com que intensidade, com que sinceridade! – mil projectos que, mesmo se realizáveis por um só homem, exigiriam dele uma carcterística puramente negativa em mim: força de vontade. Mas sofro – até aos limites da loucura, juro – como se tudo eu pudesse fazer sem, no entanto, o poder realizar, por deficiência da vontade. É um sofrimento horrível que, afirmo-o, me mantém constantemente nos limites da loucura. E, além disso, incompreendido. Ninguém suspeita do meu amor patriótico, mais intendo que o de todos aqueles a quem encontro ou conheço. (...)»

Assim escrevia (ainda em inglês) o jovem Fernando Pessoa, em Outubro de 1908, com o exagero dos vinte anos de idade . Aos “mil projectos” foi o Arquipoeta fiel ao longo de toda a vida, saindo a público logo quatro anos depois com o célebre artigo para a “Renascença Portuguesa”. E mesmo para além de 1934, quando publicou a Mensagem: no último ano de vida escreveria mais de trezentas quadras “ao gosto popular”, que bem podiam ter vindo de mais um heterónimo. (Só me custava admitir que, no leito de morte, a última frase lhe tivesse saído em inglês; mas também aqui nos deu um sinal-mensagem precioso a nós e dele.)

Não esqueça a Cristina que este sebastiânico Arauto da Era Lusíada (para lembrar um título de Pascoaes) foi um exegeta minucioso e atento à voz popular do sapateiro de Trancoso, e deixou-nos apontada à margem das quadras do Terceiro Corpo de Profecias uma certa palavra e uma certa data futura muito precisa... Ora, se no “horóscopo de Portugal” – ao deduzir o “fim” em 1978 –, ele falhou só por 3 anos...

(Estas previsões numéricas devem-se conferir com a tal última frase dele.)
Sem imagem de perfil

De Duarte Meira a 18.06.2013 às 21:20


Desculpe-me, deveria ter escrito:

«Ninguém suspeita do meu amor patriótico, mais intenso ... »

Reparou na tão nossa característica falha da vontade, agudizada quando não temos à vista um Capitão à altura ? À altura da aventura dos mil e um projectos...

Não desfaleça nunca a sua vontade de bem fazer o bem que aqui tem feito, Cristina!

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas