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Nous te voulons!
A Chanceler deixou de ser o alvo na carreira de tiro dos desesperados. Se em Portugal temos o sempre sintomático Mário Soares a assestar baterias contra Barroso, isso apenas consiste num reflexo do que se passa na sua "pátria de eleição", a França. Para onde quer que olhemos, o resultado da acção de Hollande não é de molde a agradar até aos seus mais ferrenhos aliados. Politicamente, o ocaso francês é patente, avassalador, confirmando plenamente aquilo que há muito se sabia e que Sarkozy procurava disfarçar. Em termos internos, o descalabro é total, desde as questões de segurança interna, até à catástrofe financeira que a maioria dos europeus prefere ignorar, tal é o pavor por aquilo que poderá acontecer.
Há um quarto de século, Mitterrand escancarou as portas da Assembleia Nacional a uma enxurrada de deputados da Frente Nacional de Le Pen. Justamente argumentava com um sistema eleitoral mais consentâneo com a realidade da vontade dos franceses, pois o artifício das duas voltas roçava a farsa, sendo esta deliberadamente assumida pelos defensores do status quo. Num só golpe julgava poder dividir a chamada "direita clássica", não contando com a fuga maciça de comunistas para as hostes da FN. Mitterrand esqueceu-se das suas próprias origens, esqueceu-se de Jacques Doriot e de um passado não muito distante. Mais tarde, o aflito regresso ao velho sistema de eleição, o tal "dique republicano", pressupôs a distorção da representação, daí o estupor de numerosos eleitores que a par da crise económica e financeira, da crise de identidade - em França, Mohamed é hoje o nome mais comum no registo de recém-nascidos - e da cegueira daquilo que se convencionou ser o "politicamente correcto", inauguraria um irreversível caminho para a desordem e subversão do estado de coisas até hoje julgado eterno. Embora esta pareça ser uma hipótese ainda distante, há que considerar a futura presença de uma enorme representação da FN no parlamento francês, pois o sistema eleitoral que lhe tem impedido o acesso aos lugares conquistados pelo voto, poderá muito bem servir para um dia lhe garantir uma maioria. A questão será adivinhar até quando funcionará o voto útil.
Apesar de todo o seu manobrismo e fácil adaptação às situações que mais lhe convêm, Barroso foi e é útil a Portugal, disso não haja qualquer tipo de dúvida. O actual regime fez a sua escolha e pendeu fortemente para o continentalismo europeu, em detrimento daquilo que seria mais desejável e que agora a todos salta à vista. É Barroso o homem dos americanos? Muito provavelmente assim é, e a sua nomeação para a Comissão Europeia a isso se terá devido. Mas não será este equilíbrio entre Europa e América, aquele que mais interessa à segurança europeia? Há legados que são incontornáveis, pois Barroso provém de um país inegavelmente atlantista e historicamente aliado da potência marítima dominante. Neste posicionamento Barroso não estará só, apesar de todas as reticências que os deputados britânicos lhe colocam devido à sua condição de cabeça da Comissão. Quanto ao "mundialismo e a globalização", Barroso nada mais faz, senão confirmar aquilo que a esquerda europeia durante tantas décadas pregou. Um mundo idílico e de iguais, exigia essa quebra de barreiras comerciais de que a Europa era talvez o expoente máximo. Durante demasiado tempo escutámos a nossa esquerda ditar sentenças acerca da situação de chineses, indianos, africanos e de uma infinidade de povos submetidos à exploração que a nossa PAC e as pautas aduaneiras impunham como armas de privilégio para o velho mundo. O capitalismo internacional caiu na tentação do lucro fácil e ao mesmo tempo que retirava da miséria dezenas de milhões na China e na Índia, destruía a tradicional base do poder europeu e americano. Ao contrário daquilo que o desesperado Hollande alega, foi a esquerda europeia quem pugnou por essa abertura sem peias, sem aquelas necessárias precauções que garantissem a não-colaboração com os sistema de trabalho escravo, as tais situações de desigualdade com as quais a Europa do Estado Social não pode nem deve competir. Internamente, essas "aberturas" trouxeram o terceiro-mundo para as nossas periferias e o nosso sector progressista deu-se ao excelso artifício de criar um sector capitalista e empresarial que lhe é afecto e que sem a esquerda no poder, não pode medrar. Ofendendo as tais tradições pelas quais hoje ironicamente reclama, a esquerda empurrou para a extrema-direita uma até há pouco impensável quantidade de eleitores irritados pelo sistema do duplo critério, da manipulação da democracia eleitoral, da cedência perante aquilo - a islamização, há que afirmá-lo sem rodeios - que liminarmente todos rejeitam.
A culpa é dos americanos, é de Barroso, dos ingleses e um dia destes, dos seus eternos aliados portugueses. Isto é afirmado por quem ainda não reparou que à sua volta existe uma sociedade razoavelmente americanizada. Das Levi's e t-shirts que "fizeram o Maio 68", até à música, inovações tecnológicas e correspondente língua dominante, cinema e ao horrendo fast-food, de tudo isso a esquerda se serviu para se impor como "diferente". Atacar os americanos por causa da "diversidade cultural", é de facto insólito. A esquerda é hoje quem mais brada pelo regresso ao consumo e à despesa, imagem de marca Made in USA, confirmando assim que Marx está enterrado em Londres, a múmia de Lenine é atacada por fungos e os seguidores de Trostky não passam de picaretas falantes. Mas do que estavam à espera?
Ce rapprochement soudain avec le principal parti d’extrême droite français n’est pas surprenant. Poutine tient tête au monde occidental “ultra-libéraliste”, comme elle ne cesse de le dénoncer, et le Kremlin se tourne de plus en plus vers une politique conservatrice et nationaliste (http://fr.euronews.com/2012/03/05/russie-un-nouveau-regne-poutine/) avec le rejet de l’immigration et une attitude agressive vis-à-vis d’autres puissances.»