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Nabos políticos

por John Wolf, em 26.06.13

Semedo tem razão. O que fizeram às sementeiras? António Costa deve explicações ao povo e aos lavradores da cidade. Não acho graça nenhuma que tenham destruído a horta comunitária. O acto exprime o estado de desenvolvimento político do edil. Os dirigentes municipais demonstram que vivem na idade da pedra. O minifúndio urbano representa a resposta sensata aos excessos do urbanismo, ao avanço desmesurado do betão sobre a base agrária original. A paisagem rural precede a cidade, mas mais importante do que essa dimensão histórica ou arqueológica, será a resposta que a população encontra para suprir necessidades alimentares. Não estão a trabalhar para aquecer. Estão a plantar couves e batatas. Estão a homenagear a alface. E fazem-no alegremente, a cantar. A reforma agrária que lançou pânico nos latifúndios nos anos 70 parece ter sobrevivido e se mutado geneticamente para desbastar esta iniciativa que nem sequer aconteceu na floresta de Monsanto, e que nem sequer envolveu a empresa de transgénicos que também vai pelo nome de Monsanto. Ainda por cima a empresa agrícola era, ao que parece, uma multinacional. Ouvi falar na detenção de uma agricultora francesa e outro proveniente da Turquia. A polícia municipal que efectuou as detenções provinha de que ramo? Era polícia agrícola ou polícia dos costumes? Mesmo assumindo que havia questões regulamentares relacionadas com licenciamentos de hortas urbanas, o espírito empreendedor e integrativo da batata na cidade foi assaltado. Não havia necessidade de agredir a fruta e a nabiça. No contexto da crise seria expectável que um quadro favorável fosse estabelecido para autorizar talhões de cultivo um pouco por toda a cidade. Isso aconteceu um pouco por toda a Europa no contexto da miséria resultante da segunda grande guerra. Mas eu nem peço tanto. A praça do Império tem terreno? É rústico ou urbano? A alameda da cidade universitária está disponível? Então, faça-se uso da terra fértil e ponham os académicos a dar à pá, à enxada, em vez de encherem o peito com presunção. Não tinha sido Cavaco a afirmar que era um especialista, que sabia tudo sobre plantar árvores e sobre como arrancar as vinhas? Portugal não precisa de ser a Holanda nem a Noruega, mas ao menos deveria respeitar a sua matriz cultural. Lisboa foi sempre uma capital provinciana. Pelos vistos, deve haver quem não aprecie o regresso às origens humildes, de trabalho de sol a sol, na Horta do Monte ou noutro qualquer quintal da capital. O cooperativismo não é um exclusivo da Esquerda (Semedo, esta é para ti). A colaboração humana positiva floresce com muito pouco adubo, longe da política e dos pesticídas. Há quem se vá servir disto como espantalho autárquico, mas não vamos deixar. Não passa de um rebento.

publicado às 09:24


9 comentários

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De Nuno Castelo-Branco a 26.06.2013 às 14:08

O Semedo? Pobre diabo, o que ele agora aproveita para a sua agendeca, é copiado daquilo que Ribeiro Telles insiste em apresentar há mais de quatro décadas! E diz a catastrófica dupla Costa & Salgado, que o Telles é bom... para a fotografia deles, claro. 
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De John Wolf a 26.06.2013 às 15:35

Viva Nuno,
Parabéns pelo teu artigo e o destaque na homepage do SAPO!


Vamos assistir, já nas pré-elimatórias autárquicas, a todo o tipo de inclusão de números na agenda. Lamentavelmente, como bem o dizes, em relação aos pensadores originais, como o Arq. Ribeiro Telles, aproveitam as ideias mas não concedem o crédito a quem o merece.


Um abraço,


John
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De Francisco a 26.06.2013 às 15:50

Hortas comunitarias sim mas em terrenos especificamente delimitados para essa funcao e nao em espacos ja destinados para outros fins. Isto parece-me mais do que obvio entretanto. Mas sim, concordo consigo quando diz que nao havia necessidade de agredir nabos e nabicas. Mas sabe que por vezes os nabos e as nabicas sao bastante agressivas no que toca a proteger a sua propriedade. Ah.. mas a propriedade nao era deles, e ao que parece, nem sequer sao cidadaos portugueses. Enfim, sao porventura alguns efeitos indesejados da politica agricola comum.
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De zedeportugal a 26.06.2013 às 18:50

Hortas comunitarias sim mas em terrenos especificamente delimitados para essa funcao e nao em espacos ja destinados para outros fins.
Ah, as alegrias dos "kolkhozes"...
Ah.. mas a propriedade nao era deles, e ao que parece, nem sequer sao cidadaos portugueses.
ou será dos "Sovkhozes" municipais?
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De Perplexo a 27.06.2013 às 15:29

Dear John
Antes de escrever, uma pessoa informa-se. O texto tem piada, mas a piada não faz um texto, a não ser que seja só mesmo para ter piada.
1) a horta era um lixo, com mau aspecto, mais parecia um baldio do que um sítio amanhado por alguém
2) o terreno tem dono, como qualquer terreno em Lisboa e o facto de o dono não o amanhar não dá direitos a outros. Isso chamava-se usocapião nos códigos do antigamente.
3) o Costa vai transformar o espaço num jardim, com talhões para os habitantes do bairro plantarem os seus nabos à vontade
4) os habitantes do bairro disseram que não querem aqueles okupas nos talhões deles.
5) mesmo assim o Costa, que agora precisa de agradar a toda a gente, disse que arranja uns talhões aos okupas.
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De Equipa SAPO a 27.06.2013 às 21:20

Boa noite,


O seu post está em destaque na área de Opinião da homepage do SAPO.


Atenciosamente,


Catarina Osório

Gestão de Conteúdos e Redes Sociais - Portal SAPO

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De John Wolf a 27.06.2013 às 22:02

Cara Catarina Osório,
Muito obrigado pela mensagem e o destaque no vosso portal.
Atenciosamente,
John
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De SerraBrava a 27.06.2013 às 22:54

Muito bem, Jhon! Concordo plenamente com as hortas urbanas (individuais ou comunitárias) nas cidades e respectivas zonas periféricas! Localizadas o mais perto possível dos agregados familiares residentes e dedicados ao seu cultovo, claro! Combatia-se a crise e a alimentação melhorava porquanto, biológica! Também se combatia o stress a operários, didto e daquilo, professores, doutores e engenheiros à mistura e eram mais alguns filhos e filhas que se afastavam de ... outras ervas ... daninhas. Digo eu. (!)

Mas, o Jhon já reparou no valor e na importância que foi dada ao seu POST? Pelos comentários que li, que foram todos, não houve um único que o considerásse importante, pertinente nos dias de hoje! Chega a ser comentado tão apaixonadamente que até se lembram daquelas pequenas propriedades privadas consentidas pelo Comité Central d .... da Ex. URSS. Sabia que só elas - em Moscovo - "alimentavam" Moscovo? E, sabia que os produtos dessas propriedades (quem se lembra ainda do nome delas, quem é ...?) eram vendidos a troco de moedinhas e de notinhas? Hum?
Terminando; se um post é muito comentado com opiniões diferentes, umas, concordantes, outras, procurando o choque e o confronto, então é um post muito importante , interessante e iluminador de caminhos racionais para quem, de alguma maneira, caminha irracionalmente. Não interpretem mal; é apenas um pouco de filosofia do momento!  Quanto queria eu uma hortinha com mil metros quadrados, aqui ao lado do prédio! Sonhar, não custa ...

 
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De John Wolf a 27.06.2013 às 23:45

Obrigado SerraBrava,
A crise e o descalabro do paradigma dominante das últimas décadas deveria servir para repensarmos o modelo de sociedade. Temos de regressar à terra e recomeçar com a lógica económica sustentável e directa. Será através de debates desta natureza que encontraremos o caminho para a horta.
Cordialmente,
John 

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