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1) Os acontecimentos das últimas 48 horas têm sido alucinantes. Primeiro, Gaspar, agora, Portas. É difícil digerir as emoções causadas por tanta loucura política. Por mais que se tente racionalizar o irrazoável, a verdade é que não há justificação alguma para o caos em que o país foi subitamente mergulhado. Não há ninguém inocente nesta estória de terror. Todos os actores políticos desta patacoada concorreram alegremente para o desfecho de indecisão vigente neste preciso momento.
2) Comecemos por Passos Coelho: primeiro-ministro há 2 anos, com uma maioria absoluta no bolso, Passos foi absolutamente incapaz de fazer uma reforma de vulto no Estado. Depois de assumir o programa de resgate como a trave ideológica do seu mandato governativo, Passos aumentou brutalmente os impostos, deixando a despesa pública praticamente intocada. Mais: o Governo liderado pelo eterno jotinha falhou em todos os indicadores económicos que importam, estabelecendo recordes no défice, na dívida, e no desemprego. É certo que a responsabilidade não deve ser assacada, única e exclusivamente, a Passos, mas a verdade é que o primeiro-ministro pouco ou nada fez para evitar esta situação. Além disso, a douta eminência que lidera o Governo destratou, vezes sem conta, o parceiro de coligação, e foi totalmente inábil na relação entabulada com o líder do CDS/PP. É normal que, após a demissão de um ministro de Estado, a escolha de um novo membro do elenco governativo não seja discutida com o parceiro de coligação? É corrente e recto escolher para a chefia do ministério das Finanças uma figura de segunda linha que tem sido repetidamente envolvida em imbróglios judiciais que contendem directamente com a gestão dos dinheiros públicos? É usual, também, que um primeiro-ministro recuse um pedido de demissão? Mas que raio de país é este? Tornámo-nos nas Honduras europeias e ninguém avisou os portugueses? Os resultados da inexperiência de Passos estão à vista: o Governo está em frangalhos, e o país abeira-se do segundo resgate. O culpado número um deste festival de parvoíces tem um nome: Pedro Passos Coelho.
3) O papel de Portas nesta ópera bufa é discutível. Não o nego. O timing desta decisão é, no mínimo, dúbio. Porquê hoje e não ontem? Porque é que a decisão de demissão não foi comunicada previamente - escrevo isto com base nas informações que foram sendo ventiladas pelos media - aos órgãos do partido? Porque é que Portas não optou pela via da hipocrisia útil, pondo o interesse do país acima da verrina desajeitada de Passos? Há imensas perguntas que podem ser feitas ao líder do CDS, porém, há que sublinhar o seguinte: o mau tratamento político a que Portas foi sujeito, constante e ininterruptamente, pelo primeiro-ministro tornou a saída de cena numa inevitabilidade quântica. As coligações fazem-de de entendimentos, compromissos e sentido de Estado. Nada disso se verificou. Os entendimentos foram sempre pífios, os compromissos inexistentes, e o sentido de Estado morreu na praia. Paulo Portas tem a seu favor o facto de ter perseguido, com vigor, ao longo destes últimos dois anos, uma agenda reformista que tinha no bojo o fim do excesso confiscatório de Gaspar. Exprimiu as suas divergências e aguentou estoicamente o fardo da estabilidade. Sem embargo, a paciência esgotou-se. Urge explicar aos portugueses, o quanto antes, o porquê desta decisão. O estado de falência do país não admite mais delongas. Portas, inteligente e arguto como é e sempre foi, sabe que os credores não tolerariam um estado de caos nas elites políticas e económicas. É por isso que sei e tenho a certeza que Paulo Portas - alguém que daria um excelente primeiro-ministro - esclarecerá cabalmente os portugueses a respeito dos contornos desta decisão. Com ou sem eleições - eu não pertenço ao grupo dos que diabolizam o recurso a um acto eleitoral -, o CDS tem de esclarecer, muito rapidamente, o que defende e propõe para o futuro da governação.
4) Cavaco Silva, quo vadis? Onde anda a eminência belenense? Sim, a pergunta a fazer é mesmo essa: onde anda o Presidente da República? Mais: como é possível realizar-se a cerimónia de tomada de posse da nova ministra neste cenário deliberadamente dinamitado? A incapacidade de Cavaco está a atingir o paroxismo da falta de escrúpulos. É bom que alguém o avise que o regime não aguentará tanta suavidade de gestos.
Na moção que vai apresentar ao XXV Congresso do CDS-PP, e terça-feira à noite divulgada em Lisboa, Portas defende o consenso político e a concertação e diz que o partido "não contribuirá para o excesso de crispação política em Portugal""