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José Adelino Maltez, Iniciativa que vai além do arrastamento:
«Não houve fuga, pântano, nem tabu. Muito menos, a pescada do segredinho, aquela que, antes de o ser, já o era. Afinal, no presente quadro parlamentar, não vai haver um novo governo, mas a continuidade, não renovada, do que foi presidencialmente qualificado como o atual Governo, desde já condenado a não pilotar o futuro, marcado para o início de 2014. Por outras palavras, o maquiavelismo da retórica, aquele que, no curto prazo, parecia ter, com ele, a razão da história dos vencedores da espuma, não pode alcançar o médio prazo. Porque tanto é uma má moral como uma péssima política. O economista-Presidente sabe, de ciência certa, mas sem poder absoluto, que, a longo prazo, poderemos estar todos mortos. É evidente que, perante a ditadura do estado de exceção, o normal é haver anormais, até porque, em democracia, governar é gerir crises. Por outras palavras, o Presidente não quis ser, para já, a iniciativa presidencial, nomeadamente pela constituição de um governo provisório criativo e a antecipação das necessárias eleições. Mas também não se ficou pelo mero arrastamento presidencial. Apenas lançou um ultimato ao que considerou como políticos, proclamando que chegou a era da responsabilidade e reconhecendo que a atual coligação não é união sagrada. Guardou a bomba atómica para antes do pós-troika, no caso de não haver acordo de salvação nacional, e até disse que não pretende arbitrar a negociação. Em conclusão: coisas novas. Com a incerteza de poder emergir algo que vá além da velha dialética de "uma maioria, um governo e um presidente", o qual, de forma minimalista, seria mera consequência desses poderes fácticos. A política já não pode continuar a ser o que foi nem voltar a ser o que era. O que vai ser, só Deus sabe, mesmo que Deus exista.»