Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




O fim da recessão e da verdade

por John Wolf, em 12.08.13

Daqui a nada, e em directo de um Pontal malcheiroso, na famosa rentrée, escutaremos o anúncio do fim oficial da recessão em Portugal. Os dados apresentados apontam nesse sentido politicamente conveniente. As notícias da recuperação não são boas para as aspirações de António José Seguro que apostou as suas fichas todas no jogo da lerpa, na falência de Portugal e no abismo. Convém, no entanto, analisar o que está em causa. Os despedimentos em massa a que assistimos nos últimos dois anos foram um maná para as empresas. Os custos laborais são um dos componentes mais pesados da máquina produtiva. As empresas há muito que sonhavam com uma depressão para aumentar os índices de produtividade. Com um número muito menos expressivo de trabalhadores é possível produzir o mesmo número de pneus ou a mesma quantidade de manteiga. Dito deste modo pode parecer uma simplificação excessiva, mas é possível potenciar até um certo limite os factores de produção. Nesse contexto, os mercados têm revelado essa dinâmica, essa vantagem empresarial; as acções cotadas em bolsa têm vindo a se valorizar, enquanto a economia social tem vindo a pagar o preço - o desemprego que se encontra em níveis de amargura, e que foi ligeiramente atenuado devido aos efeitos sazonais imposto pelo turismo, irá continuar a crescer em sentido inverso aos bons resultados das exportações. Não creio que Passos Coelho anuncie "à Hollande" que a recessão terminou à meia-noite de uma qualquer Quarta-feira, mas irá decerto aproveitar estes indicadores de "retoma" espremendo-os até o tutano para justificar a Austeridade. Seguro, que tem andado sempre a reboque do que sai da boca do executivo, terá rapidamente de encontrar um antídoto, uma fórmula para contrariar os bons números das exportações. Restar-lhe-á se concentrar no emprego, na mesma frase batida que tem vindo a apregoar desde que o conhecemos enquanto homem com soluções para Portugal. Seguro deveria apontar baterias ao Banco Central Europeu, deveria lá estar caído, semana sim quinzena não, a fazer pressão sobre as instituições para que o estímulo às economias seja a doutrina adoptada. Se quer servir as causas nacionais, não pode andar ocupado com questões de taxonomia política, com precisões semânticas respeitantes a baixezas ou altezas do poder político. Seguro, apologista da verdade dos Swaps e afins, ainda não percebeu durante estes anos todos de socialismo conventual, que a verdade não é a missão principal dos sistemas políticos ou de justiça. Provavelmente Seguro nunca ouviu falar do teórico de esquerda Herbert Marcuse que expõe de um modo fácil que "quando a verdade não é realizável no quadro da ordem social existente, ela assume o carácter de utopia". Em suma, as verdades ou a reposição das mesmas, não serve o interesse nacional ou as necessidades individuais de trabalhadores desempregados. Aqueles que vivem o desespero da miséria económica e social não querem saber de justiceiros, de Don Quixotes de La Palisse, enquanto vasculham nos caixotes à procura da próxima eleição, refeição. 

publicado às 12:01


5 comentários

Sem imagem de perfil

De Anónimo a 12.08.2013 às 16:28

Concordo, mas não podemos ficar no concordo ou discordo. Temos de buscar soluções que não sejam despedimentos e cortes que qualquer um faria sem necessitar de  mestrados, douturamentos e bonitas palestras cheias de nada. Que falta em Portugal,Epanha,Grecia...... Essencialmente trabalho e mais trabalho.  Então porque esperamos e não metemos mão à obra. É preciso é que nos queiram governar e não desgovernar ou somente  governarem-se a eles. Se pensarmos a sério bastava que todas as empresas europeias deslocalizadas fora da comunidade, em países de mão de obra barata e sem regras regressassem, caso não o fizessem todos os seus produtos ao entrarem na Europa teriam de pagar um imposto altíssimo e aí deixaria de interessar a deslocalização. Outra assunto que me perturba a mente, porque razão a China nos invade com lojas e mais lojas com produtos sem regras e nós países da comunidade temos de obedecer às regras caso contrário seremos penalizados. Afinal porque lutamos? Por uma globalização sem rei nem roque, ou igualdade de condições e regras iguais para todos?   
Imagem de perfil

De John Wolf a 12.08.2013 às 16:54

Obrigado pelo comentário!
De facto, penso que faz falta um choque fiscal, mas em sentido inverso. Tornar Portugal um destino de eleição para empresas baixando de forma drástica os impostos em sede contribuição colectiva, empresarial. Entramos numa fase perigosa de morte económica, sem consumidores, sem procura...
Cordialmente,
John
Imagem de perfil

De Nuno Castelo-Branco a 12.08.2013 às 20:42

Estamos naquela situação de solução duvidosa, em que será necessária a industrialização, mas onde inevitavelmente o Estado terá de apoiá-la. Um novo Fontismo adaptado aos nossos tempos? Baixar radicalmente os custos passa pelos impostos e também - e aqui é que as intersindicais tremem de pavor - pela mecanização da produção. O que fazer com um enorme contingente de desempregados? A verdade é que não podemos nem queremos ser um centro de call-centers, pois os proventos que daí vêm para os bolsos de quem lá trabalha, são miseráveis , para não dizer outra coisa. O Ocidente vê-se num dilema muito mais grave que aquele verificado na revolução industrial. De nada adiantará voltarmos à destruição de máquinas. Há que repensar toda a estrutura produtiva. Quanto aos empresários e ao capital necessário, esse é outro assunto. Tudo muito difícil, como se vê. 
Sem imagem de perfil

De . a 12.08.2013 às 18:06

Caro anonimo,

Tem ligacoes poderosas em Portugal? Tem um emprego bom, isto 'e, 'e medico, advogado de uma firma do top 5 , juiz ou gestor (ou dono) de uma empresa grande em Portugal? Nao? Entao saia enquanto pode. Apenas esta a perder tempo numa economia com um PIB abaixo dos 300 bilioes de dolares. E essa 'e a verdade nacional actual. O resto 'e tudo bla bla bla muito interessante de se ler escrito pelos licenciados em ciencias sociais mas no mundo actual 'e irrelevante. Money talks, bullshit walks.
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 13.08.2013 às 09:39

 
Não é só bla bla bla. Bla bla é se cairmos no marasmo de nada fazermos. Se continuarmos assim aí vamo-nos dar muito mal e a história repetir-se -á e  não há volta a dar .Se puder dê um pulinho aos países nórdicos e veja como funciona a verdadeira democracia.     

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas