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No que tange ao assunto-mor da política portuguesa, o tão ansiado crescimento económico, que, segundo alguns, curará de uma penada os males endémicos da crise portuguesa, os últimos dias foram pródigos em manifestações jubilosas um tanto ou quanto exageradas. Não é que eu queira cortar cerce o fôlego optimista que percorreu algum comentadeirismo encartado, pois, na verdade, os últimos números trazidos à liça são bons indicadores que devem ser tomados como um indício de que a espiral recessiva está a abeirar-se do fim. Repare-se no seguinte: no segundo trimestre do presente ano, o PIB cresceu 1,1%, o que, comparando com os exercícios anteriores, não deixa de ser uma excelente notícia. Meses e meses a fio de recessão foram, subitamente, rendidos por algum crescimento. No meio de tanta desgraça, o diabo recessivo sofreu um sério revés. Porém, e é aqui que reside o busílis da questão, seria bom não embandeirar em arco. Em primeiro lugar, há que aferir a real sustentabilidade desta inversão de expectativas. Por enquanto, com os dados disponíveis, ainda é cedo para esgrimir, com alguma certeza, as verdadeiras razões que estiveram por detrás deste crescimento repentino. Em segundo lugar, o ajustamento está longe de estar concluído. Bem longe, sublinhe-se. Mais: a segunda metade da legislatura, que teve o seu início no já famigerado " acordo do Tivoli", será um momento chave na concretização ou não da reforma do Estado. Os primeiros indícios não têm sido propriamente positivos, mas até ao lavar dos cestos ainda é vindima. Entretanto, tem-se verificado um silêncio tonitruante por banda da oposição, o que se deve, muito provavelmente, ao efeito estival que conduz uma grande porção dos grilos falantes merdiocráticos para o Algarve do calçadão. Aliás, uma das consequências mais salientes dos recentes anúncios de aligeiramento da recessão, que alguns tomaram, sintomaticamente, como um mau prenúncio relativamente às suas aspirações eleitoreiras, foi o acantonamento discursivo da oposição. O Partido Socialista desapareceu dos radares da parlapatice, e as seitas comunistóides mantiveram a mesma toada casseteira, que só encanta, claro está, os seguidores fanatizados de um credo que só serve para rábulas humorísticas. No fundo, estão todos bem uns para os outros. O país, esse, é que, no intervalo desta xaropada política, vai labutando dia-a-dia, resistindo aos ataques de quem vive do esbulho do trabalho alheio.