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O voto e sete palmos de terra

por John Wolf, em 19.08.13

Não são apenas os vivos que votam. Existem mortos que continuam a votar. Mas os que já partiram foram sujeitos a decisões quer de vivos quer de mortos. As decisões políticas do passado são tão fatais quanto as do presente. A propósito desta anómalia da Direcção Geral da Administração Interna que se reflecte nos cadernos eleitorais, lembrei-me do seguinte; se conferíram o direito de voto a estes falecidos-eleitores, penso que chegou o momento dos constitucionalistas começarem a pensar numa outra figura eleitoral. Imagino um testamento eleitoral, através do qual, aqueles que preparam convenientemente a sua partida da vida terrena, deixam um documento válido com orientações claras em relação ao seu sentido de voto. Só porque um indivíduo bateu as botas não deveria significar que se torna um sujeito passivo sem utilidade política. De certeza que há muitos falecidos que estão a dar  voltas no caixão com os eventos políticos e sociais que estão a assolar o país. Que melhor forma de compensação poderia existir do que conceder uma segunda oportunidade aos falecidos para corrigir certos desequilíbrios. Os indivíduos de convicções fortes vivem com essa prerrogativa desde que nascem até ao dia em que morrem. Porque razão o último suspiro tem de significar o fim da crença ideológica ou partidária? São questões desta natureza eleito-existencial que nos devem agitar a alma em tempos de disputas autárquicas. Autárquicas? Ora aqui está outro termo controverso. A autarquia é uma forma de governo independente, entendida por alguns como um modo de ditadura. Em princípio os municípios deveriam garantir a sua independência e a sua capacidade de gestão, a sua saúde financeira, mas não é o caso, também estão em coma económico, político e financeiro. Enfim, não me quero afastar da problemática eleitoral que os falecidos enfrentam. Eu sei que a matéria é mórbida e porventura desagradável, mas todas as implicações devem ser tidas em conta. O passado está carregado de gente que lixou o presente, mas esse pessoal está vivinho da silva (está bem de saúde mas não se recomenda). Esses vivos - zombies do passado político recente ou longínquo -, andam por aí a atormentar-nos. Residem num espécie de purgatório da responsabilidade, esperançosos, crentes na ressurreição política numa qualquer câmara municipal ou nacional. Sinceramente, não sei que forma de espiritualidade nos pode proteger das suas intenções. Venha o diabo eleitoral e escolha, uma vez que já se perdeu o respeito pelos vivos e pelos mortos.

publicado às 15:11


1 comentário

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De Ana a 19.08.2013 às 23:52

Se o voto fosse obrigatório já não havia mortos a votar. É que isto de haver mortos a votar tem muito que se lhe diga.  Haja coragem para se viver com humildade e honestidade num país onde já nem os mortos se respeitam.   

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