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E como tal, irrelevante.
Mas deixem-me *concretizar*.
Pelos vistos as receitas médicas em papel (usados em casos excepcionais) sofreram uma alteração de modelo de maneira a incluir no cabeçalho a seguinte inscrição:
"Governo de Portugal"
Receita sem esta coisa impressa, não vale.
Mais uma vez quem se lixou foi o doente (o boneco, o verbo encher!) que quando chegou à farmácia viu a sua receita invalidada pela não conformidade. Ficou com cara de tacho a olhar para o farmacêutico e sem o medicamento. Estar doente, com doença grave, já é em si difícil; mas neste país tal suplício é elevado ao nível de uma autêntica via sacra, com os doentes literalmente a arrastarem-se de um lado para o outro, apanhados no meio de barreiras burocráticas, atrasos, tratamentos com fármacos racionados e do século passado, e uma série de situações que fazem o diabo rir.
E portanto, lá voltou o doente à consulta (quiçá pagando nova taxa moderadora - não confirmei) para lhe passarem uma receita comme il faut - bonitinha, com bandeira e tudo.
Estava eu maravilhada (em mau!) a ouvir este "episódio da vida romântica", quando a minha amiga, a médica, me diz: "Mas espera, há mais... Portanto, eu pedi imensa desculpa, não fui informada que o modelo da receita tinha mudado, lá pedi novas receitas e pedi ao doente que voltasse à consulta dentro de dias. O doente voltou, lá prescrevi novamente o medicamento. Qual não é o meu espanto quando na consulta seguinte verifico que não venderam o medicamento que eu prescrevi, mas outro, um parecido, o que havia na farmácia. Tu já viste isto?!" E perguntava ela, meia a rir, meia a chorar: "Mas desde quando é que uma prescrição, que é um acto médico com enquadramento legal, se transformou numa mera formalidade inconsequente?! Desde quando?!"
Pois é...uma receita não vale e não pode ser aceite sem ter escrito "Governo de Portugal" - que isto não é assim, uma receita é uma coisa séria, ómessa! No entanto, aquilo que realmente importa - que é o que o médico (pr)escreve, "isso agora não interessa nada, tá a despachar o que há aqui na farmácia e o médico que vá mas é estudar! - mais ainda."
Muito bem.
Digam-me: se isto não é o expoente máximo da desordem, do despautério, do desrespeito, então eu não sei o que é...
Falando de forma mais concreta, pergunto ao caro leitor: quando lhe for diagnosticada uma doença grave - daquelas mesmo feias e assustadoras! (e não o quero alarmar, mas devo dizer-lhe que as probabilidades estão contra si), pergunto-lhe, quando lhe diagnosticarem uma doença grave (ou à sua mãe, esposa, marido ou ao seu filho) como é que gostaria de ser tratado? "À portuguesa"?
Boa sorte.