"O sino da minha aldeia, " Tinha razão um velho rei de França:
Dolente na tarde calma, « Têm sua alma, em cada terra, os sinos »
Cada tua badalada Alguns brincam e riem de esperança,
Soa dentro de minha alma. Palreiros como falas de meninos.
E é tão lento o teu soar, Os d'esta aldeia chamam-me, e eu desperto
Tão como triste da vida, Logo de manhãzinha, e por aí fora
Que já a primeira pancada Vou de longada, como um bom pastor.
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto E a voz dos sinos n'este céu aberto
Quando passo, sempre errante, É como um hino antigo e nupcial da Aurora,
És para mim como um sonho. Com a frescura d'um pomar em flor...
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua, Júlio Brandão
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa
Vivida a infância na aldeia dos pais - lá frequentei a escola primária, lá ia à doutrina e fiz a Primeira Comunhão, de lá eram as minhas amigas, por lá brinquei -, a igreja paroquial sempre foi um ponto de referência, onde paroquiava um padre amigo de todos, e que, tendo há muito sido colocado na cidade sede do concelho, permanece, tantos anos passados, o amigo de todas as ocasiões; aquele a quem se chama sempre, sejam horas felizes ou de grande tristeza.
Hoje a aldeia é outra, e diversa a ligação com a sua igreja, que não é a da " minha " aldeia, a que me vem à memória quando lembro os saudosos tempos da meninice.
Mas é uma igreja linda, como lindo é o badalar do sino no campanário.