por Cristina Ribeiro, em 27.08.13
Como agora, face a essa imposição acordista que tem em mira a criminosa desfiguração da nossa Língua, também aos portugueses d'antanho se pôs como única alternativa a resistência, em maré de " uniformização foneticista ".
O caso paradigmático, porque de quase todos conhecido, é o de Fernando Pessoa, que se recusou a deixar o ph de " pharmacia "; mas muitos foram os intelectuais que se juntaram aos muitísimos anónimos nesse propósito de não cessão. É esse o caminho seguido pelo poeta bracarense João Penha.
" A TRISTE COUSA "
Elle era trovador, e não obstante
Julgava o amor ethéreo uma mentira
Assumpto apenas necessario á lyra;
E só ao natural amou constante.
Cançado, como um velho caminhante,
Mortiço o fogo da amorosa pyra,
Eis o que respondeu á doce Elvira,
Que insistente o queria por amante:
« Debalde o amor n'esse teu peito arde:
Vales mais do que as minas do Perú,
Mas eu não posso amar-te: agora é tarde.
« Eu vou no occáso; estás na aurora tu;
Illudir-te seria de covarde;
Eu proprio não me atreveria a olhar-me nu! »