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Há vários temas que dominam os escaparates dos últimos dias. As trágicas mortes dos bombeiros decorrente dos combates aos incêndios, o chumbo do tribunal constitucional (TC), e o clássico, o dérbi que opõe o Sporting ao Benfica. Um outro tema é a crise na Síria e se os americanos chegarão a vias de facto ou não nos dias que se seguem. Mas, fiquemo-nos pelos fogos e pelos tribunais. Se cruzarmos o flagelo do fogo com a razia levada a cabo pelos juízes do TC poderemos perguntar porque razão ainda não redigiram uma Constituição da Floresta e não criaram um Tribunal do Fogo? A catástrofe incendiária que assola Portugal deve ser tratada em sede própria. Os tribunais regulares parecem totalmente desadequados e incompetentes no tratamento jurídico dos ilícitos praticados. Quantas vezes não somos confrontados com reincidentes incendiários que foram sujeitos a um simples termo de identidade e residência? Os deflagradores de matas são assassinos da alma mater do país e homicídas com rosto, e merecem ser tratados como traidores de Portugal. Quantas vezes não são desculpados por terem um isqueiro no bolso e padecerem de problemas de bebida. Por outro lado, a inexistência de uma verdadeira constituição dedicada em exclusivo à floresta, significa que as árvores fazem parte de um regime jurídico regular, banal. Os governantes parecem esquecer que foi a partir de matos desbravados que a nação se ergueu. O que pensam que foi o condado Portucalense? E quem pensam que foi D. Afonso Henriques? O primeiro governante foi precisamente um gestor de terras bravias - o Primeiro Ordenador -, embora não tenha sido esse o seu cognome. A base geográfica de Portugal é a fundação a partir da qual todos os edifícios e sonhos são propostos. O modo inequívoco de decidir dos juízes do TC deveria transitar para um Tribunal do Fogo. Contudo, para que possam agir de um modo conclusivo e irredutível, uma Constituição da Floresta teria de existir. Um normativo fundamental que determinasse a inviolabilidade da bio-massa, do pinhal ou eucaliptal. Todos os anos é a mesma história de sempre. As chamas atravessam vales e montanhas, e a batata esturricada passa de mão em mão. De governante para governante que afirma que Portugal é um exemplo, um modelo de gestão das florestas. Os bombeiros que não têm voto na matéria da administração do território carregam o maior fardo de todos - pagam com a sua vida. Os políticos, mesmo os fracassados e derrotados, nunca se chegam a chamuscar, quanto mais se queimar. Guardam sempre uma distância confortável da responsabilidade, dos crimes de sangue e seiva - e têm sempre à mão de semear um extintor para o caso das coisas começarem a aquecer. A floresta, e todas as suas representações vivas e simbólicas, parece estar votada a uma neblina fatal. Quem disse que Portugal não tem uma floresta negra?