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Se António José Seguro afirma categoricamente que recusará qualquer aproveitamento político das consequências do flagelo dos incêndios, poderemos deduzir, por exclusão de partes, que outras matérias podem, devem e serão aproveitadas ao máximo. Parece-me patético que o lider socialista tenha de fazer este anúncio de índole moralista. Repito: recusará. O que significa isto? Que outros lhe trarão sobre uma bandeja a cabeça do aproveitamento político, e que ele dirá, algo irritado; não senhor! não aprecio, mande de volta! Ao apresentar-se como herói da deontologia republicana já se está a aproveitar da situação. O prospectivo candidato a "não se sabe bem o quê" está a inteirar-se sobre a situação e a recolher mais informações. Será que recolher mais informações significa revelar os contornos de contratos milionários respeitantes à utilização de meios aéreos? Cuidado, caro Seguro. Veja lá, se esgravata muito, ainda encontra entre as cinzas a mão rosa na adjudicação e selecção de meios de combate a incêndios. Afirma que será firme no apuramento de responsabilidades. Estou a ver que Seguro quer imitar o Tribunal de Contas e não ceder um milímetro àqueles que querem torcer o rabo à porca. Regressando à questão dos aproveitamentos, reciclagens e eco-pontos políticos, gostaria de saber que temas podem servir de arma de arremesso? Que temas podem ser surripiados à má fila para benefício partidário? Ora vejamos o que pode saltar de um campo para o seguinte para além da bola, do futebol. O que pode ser furtado sem sentido de nojo ou humildade? A guerra na Síria? Não me parece. Fica muito longe. O desemprego? Não. Isso já ele fez. Poderia continuar a dar mais exemplos, mas penso que basta para dar a ideia do absurdo deste soldado perdido no campo de batalha político. Será que ainda não aprendeu, depois de tantos anos de estágio, que a política é como a roupa velha da cozinha? A política vive do reaquecimento e aproveitamento das deixas, dos restos dos outros. Eu sei o que ele quer dizer, em respeito pelas famílias enlutadas que perderam entes queridos neste desastre nacional, mas dito desse modo, parece conversa de um grande sonso. Mais valia que fosse dar um abraço honesto aos sobreviventes e se deixasse de conversa da treta.